Carta aberta à suicida da CREL
Minha senhora:
Como não tive oportunidade de falar consigo quando nos cruzámos à cerca de uma hora atrás, venho por este meio alternativo tentar provar-lhe que um carro e uma AE não são o método mais inteligente para alguém tentar acabar com a própria vida.
Eu sei que a vida está difícil, o emprego escasseia, os combustíveis sobem, o PEC nada resolverá e o futuro parece-lhe negro. Mas compreenderá por certo, que nem todos partilhamos da sua angustiante visão de futuro e que a levou a hoje tentar acabar com a própria vida. Existem pessoas como eu, que felizmente lá vão andando menos mal e que fazem questão (por muito espanto que isto lhe possa causar) de tentar esticar a vida o máximo que puderem, uma vez que acreditam só termos esta e mais nenhuma para gozar.
Portanto, aconselho-a a usar outros métodos que não aquele que usou hoje e que põe em causa não só a sua vida (para seu gáudio) como também a de terceiros. Repare que parar numa via de desaceleração de uma AE para trocar de lugar com a pendura não lhe garante a morte a 100%. Pode ter azar e apenas ficar o resto dos seus dias inerte numa cama e a beber por uma palhinha. Para isso aconselhava-a a cravar uma bala nos miolos, dizem que é mais eficaz. Tem 95% de probabilidades de alcançar a Morte, e os outros 5% não terão um resultado muito diferente, ficando num estado vegetativo, que ele próprio se assemelha à Morte que tanto deseja. Poderá também atirar-se de um sítio bem alto, o Cristo Rei por exemplo. Mas certifique-se primeiro que não vai cair em cima de algum inocente, alheio e certamente indiferente aos seus problemas.
Chegados a este ponto, e se ainda me está a ler, poderá a ilustre dizer-me que estou redondamente enganado pois que não quer nada com a morte. Pergunto-lhe então: parar numa via de uma AE, quando tinha uma berma à sua disposição, só para ceder o posto de condução à sua pendura, descrevendo as duas ilustres uma circunferência (de passos largos, é certo) à viatura com um ar divertido e saltitão, poderá ser um gesto classificável de outra forma que não tentativa de suicídio? Desculpe, mas não me parece. Felizmente deixou meia dúzia de metros entre a frente da sua viatura e o separador, caso contrário não duvide que eu, tendo de decidir numa fracção de segundo entre espetar-me a 100 km/h contra o separador ou contra si, decidia sem pestanejar levá-la a si, à frente, pois as minhas possibilidades de sobreviver ao seu gesto incauto seriam infinitamente maiores. Recordo-lhe que apesar de lamentar esse hipotético desfecho, lamentaria decerto muito mais pôr término à minha existência por a senhora ter decidido trocar de lugar com a sua pendura em plena faixa de desaceleração de uma AE.
Minha senhora, qual será a sua próxima originalidade? Levar uma toalha, umas pernas de frango e um garrafão de tinto e fazer um piquenique na faixa da esquerda da Ponte Vasco da Gama? Jogar uma sueca com mais três amigas em pleno túnel do Marquês? Se gosta de ver miolos, tripas e sangue a escorrer deveria ter estudado Medicina Legal ou equivalente. Se gosta de ver chapa retorcida, agarre no farnel e passe uma tarde numa sucata. Mas por favor não volte a pôr em perigo a vida de terceiros, como fez hoje, há cerca de uma hora atrás.
Atentamente,
Raistaparta
Como não tive oportunidade de falar consigo quando nos cruzámos à cerca de uma hora atrás, venho por este meio alternativo tentar provar-lhe que um carro e uma AE não são o método mais inteligente para alguém tentar acabar com a própria vida.
Eu sei que a vida está difícil, o emprego escasseia, os combustíveis sobem, o PEC nada resolverá e o futuro parece-lhe negro. Mas compreenderá por certo, que nem todos partilhamos da sua angustiante visão de futuro e que a levou a hoje tentar acabar com a própria vida. Existem pessoas como eu, que felizmente lá vão andando menos mal e que fazem questão (por muito espanto que isto lhe possa causar) de tentar esticar a vida o máximo que puderem, uma vez que acreditam só termos esta e mais nenhuma para gozar.
Portanto, aconselho-a a usar outros métodos que não aquele que usou hoje e que põe em causa não só a sua vida (para seu gáudio) como também a de terceiros. Repare que parar numa via de desaceleração de uma AE para trocar de lugar com a pendura não lhe garante a morte a 100%. Pode ter azar e apenas ficar o resto dos seus dias inerte numa cama e a beber por uma palhinha. Para isso aconselhava-a a cravar uma bala nos miolos, dizem que é mais eficaz. Tem 95% de probabilidades de alcançar a Morte, e os outros 5% não terão um resultado muito diferente, ficando num estado vegetativo, que ele próprio se assemelha à Morte que tanto deseja. Poderá também atirar-se de um sítio bem alto, o Cristo Rei por exemplo. Mas certifique-se primeiro que não vai cair em cima de algum inocente, alheio e certamente indiferente aos seus problemas.
Chegados a este ponto, e se ainda me está a ler, poderá a ilustre dizer-me que estou redondamente enganado pois que não quer nada com a morte. Pergunto-lhe então: parar numa via de uma AE, quando tinha uma berma à sua disposição, só para ceder o posto de condução à sua pendura, descrevendo as duas ilustres uma circunferência (de passos largos, é certo) à viatura com um ar divertido e saltitão, poderá ser um gesto classificável de outra forma que não tentativa de suicídio? Desculpe, mas não me parece. Felizmente deixou meia dúzia de metros entre a frente da sua viatura e o separador, caso contrário não duvide que eu, tendo de decidir numa fracção de segundo entre espetar-me a 100 km/h contra o separador ou contra si, decidia sem pestanejar levá-la a si, à frente, pois as minhas possibilidades de sobreviver ao seu gesto incauto seriam infinitamente maiores. Recordo-lhe que apesar de lamentar esse hipotético desfecho, lamentaria decerto muito mais pôr término à minha existência por a senhora ter decidido trocar de lugar com a sua pendura em plena faixa de desaceleração de uma AE.
Minha senhora, qual será a sua próxima originalidade? Levar uma toalha, umas pernas de frango e um garrafão de tinto e fazer um piquenique na faixa da esquerda da Ponte Vasco da Gama? Jogar uma sueca com mais três amigas em pleno túnel do Marquês? Se gosta de ver miolos, tripas e sangue a escorrer deveria ter estudado Medicina Legal ou equivalente. Se gosta de ver chapa retorcida, agarre no farnel e passe uma tarde numa sucata. Mas por favor não volte a pôr em perigo a vida de terceiros, como fez hoje, há cerca de uma hora atrás.
Atentamente,
Raistaparta
ainda bem que não te aconteceu nada . . . Há pessoal que não devia mesmo de ter carta de condução.
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