Muito boa tarde
Bem sei que muitos de vós, automobilistas, consideram que o custo que o vosso automóvel acarreta, é meramente um custo interno, ou seja, o dinheiro que vocês gastam no carro (manutenção, gasolina, seguro, etc.). Todavia, os economistas definem um conceito denominado externalidades, ou custos externos. Quando a minha avó varre a entrada da sua porta lá na aldeia, está a criar uma externalidade positiva, pois a rua fica mais limpa para os outros, apesar de ela ter varrido a rua de uma forma unicamente egoística a pensar em si própria. Já quando deito papel para o chão, para não me deslocar à papeleira mais próxima, crio uma externalidade negativa, pois a câmara vai ter que pagar a alguém para recolher esse papel.
Assim, as externalidades são definidas como os custos para os outros (pessoa ou sociedade em geral), das decisões de que eles não participaram. Quando um automobilista anda de carro, poluirá o ambiente, aumentarão as probabilidades de acidentes de viação (morrem 900 pessoas por ano em Portugal de acidentes de viação), aumentará o ruído, será necessário fazer a manutenção das infraestruturas viárias e tudo isso tem custos para a sociedade.
As externalidades para a saúde pública do automóvel são:
Acidentes de viação
Os acidentes de viação causam, mundialmente, 1.3 milhões de mortes e 50 milhões de feridos por ano. Em 2030 crê-se que os acidentados representem 5% do total de enfermos. 90% dos acidentes são em países de baixos e médios rendimentos, e quase metade das mortes são de utilizadores vulneráveis como peões e ciclistas, especialmente crianças. Esta hecatombe levou alguns especialistas a utilizarem a expressão "guerra nas estradas" ou "guerra civil", nas quais os interesses dos utilizadores vulneráveis são colocados contra uma extremamente influente indústria automóvel. Embora muitas vezes a indústria se concentre em campanhas de segurança rodoviária com crianças, por exemplo, como forma de reduzir os acidentes, não há nenhuma evidência clara de que estas campanhas reduzam, globalmente, os acidentes. Há todavia um efeito atestado de massa crítica: andar a pé e de bicicleta é mais seguro em meios com maior número de peões e ciclistas e menor tráfego automóvel.
Os acidentes de viação têm um impacto bem mais amplo. O tráfego e o medo de quedas são as razões mais comuns dadas por pais para restringir as crianças de brincar e andar ao ar livre, e no caminho que estas fazem até à escola. As pessoas na generalidade citam o medo de acidentes como uma das razões para a não adoção da bicicleta.
A inatividade física e a obesidade
Substituir a viagem de carro por modos mais ativos poderia melhorar significativamente os índices de atividade física e diminuir o aumento da obesidade. A atividade física tem sido descrita por especialistas em saúde pública, como a "melhor aposta" na saúde pública, para a redução do risco de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes, osteoporose, alguns tipos de cancro, e depressão. Adultos fisicamente ativos têm entre 20% a 30% de redução do risco de morte prematura. A inatividade física é responsável mundialmente, por mais de 3 milhões de mortes por ano.
Poluição
A poluição atmosférica em meios urbanos provoca mais de 1 milhão de mortes no mundo a cada ano, principalmente através de aumentos das doenças cardiovasculares e cancros, particularmente em áreas e grupos vulneráveis. A poluição do ar é uma mistura complexa de gases e partículas pequenas em suspensão, o constituinte mais comummente associados aos efeitos nefastos para a saúde. O transporte rodoviário representa entre 30% a 50% de todas as emissões de partículas. Os níveis de poluentes são maiores nas grandes cidades de países de baixos rendimentos do que em cidades de países com altos rendimentos. Um estudo de uma universidade Inglesa, faz uma correlação entre milhares de mortes por pneumonia e poluição provocada por automóveis.
Ruído
O ruído provocado pelo tráfego rodoviário é relatado como causador de distúrbios do sono, hipertensão, aumento da pressão arterial em crianças e pequenas patologias psiquiátricas.
Separação de comunidades
Um importante impacto que a hegemonia do automóvel tem nas comunidades é o efeito da 'separação' que o tráfego e as rodovias provocam nas comunidades. Pessoas que vivem em bairros mais tranquilos e coesos têm mais interações sociais, níveis mais elevados de confiança mútua e participação social do que aqueles que vivem junto a rodovias movimentadas. A participação social de um cidadão está associada, estatisticamente, a valores muito menores de propensão para diversas causas de morte. Bairros e comunidades com excesso de rodovias, tornam-se mais desumanos e menos acolhedores.
Alterações climáticas
As alterações climáticas ameaçam a sustentabilidade global e têm muitas consequências adversas à saúde pública. Estima-se que no final do século passado, 150 mil pessoas morriam por ano devido às alterações climáticas, principalmente pessoas em ambientes mais vulneráveis e em países de baixos rendimentos. O tráfego motorizado, estima-se, contribui para cerca de 22% de todas as emissões de CO2.
Desigualdades na saúde
Tal como o tabaco, os danos associados à utilização do automóvel, são suportados desproporcionalmente em maior quantidade nas comunidades mais desfavorecidas. As zonas do mundo com menos rendimentos são mais propensas a ter forte tráfego rodoviário, resultando em altos níveis de poluição do ar, ruído e acidentes de viação. As taxas de mortalidade e de feridos por acidentes de viação mostram um gradiente social deveras íngreme, com maiores taxas per capita nos grupos financeiramente menos favorecidos, especialmente quando se trata de ferimentos em crianças peões. Da mesma forma, há uma forte correlação entre pobreza e poluição do ar sendo as populações carentes mais vulneráveis aos efeitos desta poluição. Os automóveis contribuem para as desigualdades globais, sendo que os países de baixos rendimentos sofrem mais com as alterações climáticas.
Conclusão
Os automobilistas são altamente taxados em Portugal e na Europa. É preciso então, saber, se os impostos que pagam, cobrem os custos das respetivas externalidades. Os economistas nestas matérias defendem o princípio do utilizador-pagador. Ter-se-á de fazer um minucioso "encontro de contas"
Atentamente
Fonte: Are cars the new tobacco?, Journal of Public Health. Margaret J. Douglas, Consultant in Public Health, Stephen J. Watkins, Director of Public Health, Dermot R. Gorman, Consultant in Public Health and Martin Higgins, Senior Researcher in Public Healt.
Bem sei que muitos de vós, automobilistas, consideram que o custo que o vosso automóvel acarreta, é meramente um custo interno, ou seja, o dinheiro que vocês gastam no carro (manutenção, gasolina, seguro, etc.). Todavia, os economistas definem um conceito denominado externalidades, ou custos externos. Quando a minha avó varre a entrada da sua porta lá na aldeia, está a criar uma externalidade positiva, pois a rua fica mais limpa para os outros, apesar de ela ter varrido a rua de uma forma unicamente egoística a pensar em si própria. Já quando deito papel para o chão, para não me deslocar à papeleira mais próxima, crio uma externalidade negativa, pois a câmara vai ter que pagar a alguém para recolher esse papel.
Assim, as externalidades são definidas como os custos para os outros (pessoa ou sociedade em geral), das decisões de que eles não participaram. Quando um automobilista anda de carro, poluirá o ambiente, aumentarão as probabilidades de acidentes de viação (morrem 900 pessoas por ano em Portugal de acidentes de viação), aumentará o ruído, será necessário fazer a manutenção das infraestruturas viárias e tudo isso tem custos para a sociedade.
As externalidades para a saúde pública do automóvel são:
Acidentes de viação
Os acidentes de viação causam, mundialmente, 1.3 milhões de mortes e 50 milhões de feridos por ano. Em 2030 crê-se que os acidentados representem 5% do total de enfermos. 90% dos acidentes são em países de baixos e médios rendimentos, e quase metade das mortes são de utilizadores vulneráveis como peões e ciclistas, especialmente crianças. Esta hecatombe levou alguns especialistas a utilizarem a expressão "guerra nas estradas" ou "guerra civil", nas quais os interesses dos utilizadores vulneráveis são colocados contra uma extremamente influente indústria automóvel. Embora muitas vezes a indústria se concentre em campanhas de segurança rodoviária com crianças, por exemplo, como forma de reduzir os acidentes, não há nenhuma evidência clara de que estas campanhas reduzam, globalmente, os acidentes. Há todavia um efeito atestado de massa crítica: andar a pé e de bicicleta é mais seguro em meios com maior número de peões e ciclistas e menor tráfego automóvel.
Os acidentes de viação têm um impacto bem mais amplo. O tráfego e o medo de quedas são as razões mais comuns dadas por pais para restringir as crianças de brincar e andar ao ar livre, e no caminho que estas fazem até à escola. As pessoas na generalidade citam o medo de acidentes como uma das razões para a não adoção da bicicleta.
A inatividade física e a obesidade
Substituir a viagem de carro por modos mais ativos poderia melhorar significativamente os índices de atividade física e diminuir o aumento da obesidade. A atividade física tem sido descrita por especialistas em saúde pública, como a "melhor aposta" na saúde pública, para a redução do risco de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes, osteoporose, alguns tipos de cancro, e depressão. Adultos fisicamente ativos têm entre 20% a 30% de redução do risco de morte prematura. A inatividade física é responsável mundialmente, por mais de 3 milhões de mortes por ano.
Poluição
A poluição atmosférica em meios urbanos provoca mais de 1 milhão de mortes no mundo a cada ano, principalmente através de aumentos das doenças cardiovasculares e cancros, particularmente em áreas e grupos vulneráveis. A poluição do ar é uma mistura complexa de gases e partículas pequenas em suspensão, o constituinte mais comummente associados aos efeitos nefastos para a saúde. O transporte rodoviário representa entre 30% a 50% de todas as emissões de partículas. Os níveis de poluentes são maiores nas grandes cidades de países de baixos rendimentos do que em cidades de países com altos rendimentos. Um estudo de uma universidade Inglesa, faz uma correlação entre milhares de mortes por pneumonia e poluição provocada por automóveis.
Ruído
O ruído provocado pelo tráfego rodoviário é relatado como causador de distúrbios do sono, hipertensão, aumento da pressão arterial em crianças e pequenas patologias psiquiátricas.
Separação de comunidades
Um importante impacto que a hegemonia do automóvel tem nas comunidades é o efeito da 'separação' que o tráfego e as rodovias provocam nas comunidades. Pessoas que vivem em bairros mais tranquilos e coesos têm mais interações sociais, níveis mais elevados de confiança mútua e participação social do que aqueles que vivem junto a rodovias movimentadas. A participação social de um cidadão está associada, estatisticamente, a valores muito menores de propensão para diversas causas de morte. Bairros e comunidades com excesso de rodovias, tornam-se mais desumanos e menos acolhedores.
Alterações climáticas
As alterações climáticas ameaçam a sustentabilidade global e têm muitas consequências adversas à saúde pública. Estima-se que no final do século passado, 150 mil pessoas morriam por ano devido às alterações climáticas, principalmente pessoas em ambientes mais vulneráveis e em países de baixos rendimentos. O tráfego motorizado, estima-se, contribui para cerca de 22% de todas as emissões de CO2.
Desigualdades na saúde
Tal como o tabaco, os danos associados à utilização do automóvel, são suportados desproporcionalmente em maior quantidade nas comunidades mais desfavorecidas. As zonas do mundo com menos rendimentos são mais propensas a ter forte tráfego rodoviário, resultando em altos níveis de poluição do ar, ruído e acidentes de viação. As taxas de mortalidade e de feridos por acidentes de viação mostram um gradiente social deveras íngreme, com maiores taxas per capita nos grupos financeiramente menos favorecidos, especialmente quando se trata de ferimentos em crianças peões. Da mesma forma, há uma forte correlação entre pobreza e poluição do ar sendo as populações carentes mais vulneráveis aos efeitos desta poluição. Os automóveis contribuem para as desigualdades globais, sendo que os países de baixos rendimentos sofrem mais com as alterações climáticas.
Conclusão
Os automobilistas são altamente taxados em Portugal e na Europa. É preciso então, saber, se os impostos que pagam, cobrem os custos das respetivas externalidades. Os economistas nestas matérias defendem o princípio do utilizador-pagador. Ter-se-á de fazer um minucioso "encontro de contas"
Atentamente
Fonte: Are cars the new tobacco?, Journal of Public Health. Margaret J. Douglas, Consultant in Public Health, Stephen J. Watkins, Director of Public Health, Dermot R. Gorman, Consultant in Public Health and Martin Higgins, Senior Researcher in Public Healt.
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