Sinistralidade: Europa corrige valores
Três mortes em cada dia
Acidentes de trânsito mataram 1247 pessoas nas estradas de Portugal no ano passado
Três pessoas morreram por dia nas estradas portuguesas no ano passado, 1247 no total, metade das quais eram peões e motociclistas. A cada 24 horas, os acidentes provocaram também dez feridos graves e 120 feridos ligeiros.
Os dados recolhidos por um docente do Instituto Superior Técnico (IST) – e apresentados esta semana num seminário sobre segurança rodoviária na GNR – acrescentam mais 153 mortes ao valor do relatório anual da DGV.
Os números exibidos por João Pereira Dias – obtidos a partir dos valores da Direcção Geral de Viação (1093 mortes em 2005) e corrigidos com mais 14 por cento de um índice de uniformização da União Europeia que contempla as vítimas que morrem nos 30 dias seguintes ao acidente – mostram ainda que, em três anos, os acidentes em Portugal causam tantas vítimas como os atentados de 11 de Setembro de 2001, nos EUA.
O índice de correcção aplicado pela União Europeia serve para uniformizar os dados dos diferentes países, que aplicam diferentes critérios: mortes no local do acidente, mortes até ao hospital, mortes nos sete dias seguintes e também nos trinta dias. “Em Portugal, as vítimas mortais são contadas até à porta do hospital”, explicou ao CM o Director Geral de Viação, Rogério Pinheiro. “Mas queremos passar para uma situação de até sete dias. E depois para os trinta dias”, revelou.
A alteração do critério irá obrigar a que sejam revistos vários procedimentos por parte das forças policiais e também das unidades hospitalares. Mas um novo critério, segundo o professor de Direito Rui Pereira, não trará apenas vantagens. “O alargamento para 30 dias permite uma melhor compreensão das consequências dos acidentes, mas, por outro lado, não será possível disponibilizar estatísticas de forma tão rápida como hoje”, explicou Rui Pereira.
Os exemplos são vários. Anteontem, Osvlado Serrão, de 35 anos, morreu no Hospital de Garcia de Orta, em Almada, treze dias depois do acidente que sofreu, no qual morreu o actor Francisco Adam, o ‘Dino’ dos ‘Morangos com Açúcar’. A 12 de Março, uma carrinha com jogadores do Inter da Boavista, de Braga, despistou-se e causou um morto e sete feridos, quatro deles em estado grave. Mas nas duas semanas seguintes, morreram mais três jovens.
“Há muito tempo que estamos contra esta forma de contabilizar as vítimas mortais, uma vez que ignora as consequências a longo prazo e, de certa forma, acaba por escamotear os valores da sinistralidade, que já são os mais altos da Europa”, disse ao CM Guilherme Moreira, da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados, que defende o alargamento do critério utilizado.
Rui Pereira, porém, considera que um novo critério não resolve todos os problemas. “Só a autópsia permite identificar a causa de morte e mesmo aí há resultados que são contestados”, disse.
Segundo um estudo realizado pela BT, e apresentado no mesmo seminário, 90 por cento dos sinistros com vítimas mortais ocorridos em 2005 resultaram de causas humanas.
Entre as vítimas mortais, de acordo com João Pereira Dias, os peões e os motociclistas representam cerca de metade do total registado em 2005. Estas categorias são também duas das principais áreas de investigação no Departamento de Engenharia Mecânica do IST.
DOR NO FUNERAL DE RAFAELA
A pequena Rafaela Carina, a menina de oito anos atropelada mortalmente numa passadeira da Avenida de Ceuta, em Lisboa, foi ontem sepultada pelas 11h30 no cemitério da Ajuda. O corpo saíu da capela da Quinta da Cabrinha pelas 10h30. Na Avenida de Ceuta concentraram-se dezenas de pessoas para assistir ao cortejo fúnebre, que levou ao corte do trânsito. Entre gritos de dor e revolta pela falta de segurança da passadeira, cujo sinal fecha antes que haja tempo de passar a faixa de rodagem, os moradores da Quinta da Cabrinha choravam a morte de “um anjinho”. “É tão pequena para ficar aqui sozinha”, gritava uma mulher. O pai de Rafaela que, desesperado, pedia para ser enterrado com a filha, teve de ser transportado em braços. Rafaela Carina foi atropelada na última quinta-feira, por um táxi. O sinal ficou verde para os automóveis, antes que a pequena conseguisse atravessar a faixa de rodagem. A autarquia já colocou bandas de desacelaração no local.
CIÊNCIA ATACA ACIDENTES
Investigador, especialista em reconstituição de acidentes rodoviários do Departamento de Engenharia do Técnico, João Pereira Dias é um dos rostos da abordagem científica à sinistralidade rodoviária, que vai ganhando força em Portugal. No IST, por exemplo, os investigadores são cada vez mais solicitados para, com a ajuda de programas informáticos, reconstituírem acidentes de trânsito. Contudo, o investigador considera que ainda há muito a fazer. Desde logo, a criação de equipas multidisciplinares de investigação, com médicos, psicólogos e engenheiros. Depois, a necessidade de equipar todos os carros--patrulha das polícias com máquinas fotográficas – para que os modelos em computador sejam o mais fiéis possível. Por fim, é também necessário um investimento na formação dos investigadores – a quem cabe fazer o croqui dos sinistros.
OUTROS DADOS
OPERAÇÃO PRIMAVERA
Cinco pessoas morreram nas estradas na sexta-feira e no sábado, os dois primeiros dias da operação Primavera da GNR, que termina à meia-noite de hoje. No mesmo período, os 461 acidentes ocorridos provocaram também 11 feridos graves e 169 feridos ligeiros.
ATROPELAMENTOS
Entre Janeiro e Novembro do ano passado, de acordo com a PSP, ocorreram perto de 12 mil acidentes de trânsito na cidade de Lisboa, dos quais 807 foram atropelamentos.
CINTO DE SEGURANÇA
Um estudo divulgado em Bruxelas na semana passada prova que Portugal é o país da Europa com pior taxa de utilização do cinco de segurança.
Ricardo Marques
In CM Hoje
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Três mortes em cada dia
Acidentes de trânsito mataram 1247 pessoas nas estradas de Portugal no ano passado
Três pessoas morreram por dia nas estradas portuguesas no ano passado, 1247 no total, metade das quais eram peões e motociclistas. A cada 24 horas, os acidentes provocaram também dez feridos graves e 120 feridos ligeiros.
Os dados recolhidos por um docente do Instituto Superior Técnico (IST) – e apresentados esta semana num seminário sobre segurança rodoviária na GNR – acrescentam mais 153 mortes ao valor do relatório anual da DGV.
Os números exibidos por João Pereira Dias – obtidos a partir dos valores da Direcção Geral de Viação (1093 mortes em 2005) e corrigidos com mais 14 por cento de um índice de uniformização da União Europeia que contempla as vítimas que morrem nos 30 dias seguintes ao acidente – mostram ainda que, em três anos, os acidentes em Portugal causam tantas vítimas como os atentados de 11 de Setembro de 2001, nos EUA.
O índice de correcção aplicado pela União Europeia serve para uniformizar os dados dos diferentes países, que aplicam diferentes critérios: mortes no local do acidente, mortes até ao hospital, mortes nos sete dias seguintes e também nos trinta dias. “Em Portugal, as vítimas mortais são contadas até à porta do hospital”, explicou ao CM o Director Geral de Viação, Rogério Pinheiro. “Mas queremos passar para uma situação de até sete dias. E depois para os trinta dias”, revelou.
A alteração do critério irá obrigar a que sejam revistos vários procedimentos por parte das forças policiais e também das unidades hospitalares. Mas um novo critério, segundo o professor de Direito Rui Pereira, não trará apenas vantagens. “O alargamento para 30 dias permite uma melhor compreensão das consequências dos acidentes, mas, por outro lado, não será possível disponibilizar estatísticas de forma tão rápida como hoje”, explicou Rui Pereira.
Os exemplos são vários. Anteontem, Osvlado Serrão, de 35 anos, morreu no Hospital de Garcia de Orta, em Almada, treze dias depois do acidente que sofreu, no qual morreu o actor Francisco Adam, o ‘Dino’ dos ‘Morangos com Açúcar’. A 12 de Março, uma carrinha com jogadores do Inter da Boavista, de Braga, despistou-se e causou um morto e sete feridos, quatro deles em estado grave. Mas nas duas semanas seguintes, morreram mais três jovens.
“Há muito tempo que estamos contra esta forma de contabilizar as vítimas mortais, uma vez que ignora as consequências a longo prazo e, de certa forma, acaba por escamotear os valores da sinistralidade, que já são os mais altos da Europa”, disse ao CM Guilherme Moreira, da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados, que defende o alargamento do critério utilizado.
Rui Pereira, porém, considera que um novo critério não resolve todos os problemas. “Só a autópsia permite identificar a causa de morte e mesmo aí há resultados que são contestados”, disse.
Segundo um estudo realizado pela BT, e apresentado no mesmo seminário, 90 por cento dos sinistros com vítimas mortais ocorridos em 2005 resultaram de causas humanas.
Entre as vítimas mortais, de acordo com João Pereira Dias, os peões e os motociclistas representam cerca de metade do total registado em 2005. Estas categorias são também duas das principais áreas de investigação no Departamento de Engenharia Mecânica do IST.
DOR NO FUNERAL DE RAFAELA
A pequena Rafaela Carina, a menina de oito anos atropelada mortalmente numa passadeira da Avenida de Ceuta, em Lisboa, foi ontem sepultada pelas 11h30 no cemitério da Ajuda. O corpo saíu da capela da Quinta da Cabrinha pelas 10h30. Na Avenida de Ceuta concentraram-se dezenas de pessoas para assistir ao cortejo fúnebre, que levou ao corte do trânsito. Entre gritos de dor e revolta pela falta de segurança da passadeira, cujo sinal fecha antes que haja tempo de passar a faixa de rodagem, os moradores da Quinta da Cabrinha choravam a morte de “um anjinho”. “É tão pequena para ficar aqui sozinha”, gritava uma mulher. O pai de Rafaela que, desesperado, pedia para ser enterrado com a filha, teve de ser transportado em braços. Rafaela Carina foi atropelada na última quinta-feira, por um táxi. O sinal ficou verde para os automóveis, antes que a pequena conseguisse atravessar a faixa de rodagem. A autarquia já colocou bandas de desacelaração no local.
CIÊNCIA ATACA ACIDENTES
Investigador, especialista em reconstituição de acidentes rodoviários do Departamento de Engenharia do Técnico, João Pereira Dias é um dos rostos da abordagem científica à sinistralidade rodoviária, que vai ganhando força em Portugal. No IST, por exemplo, os investigadores são cada vez mais solicitados para, com a ajuda de programas informáticos, reconstituírem acidentes de trânsito. Contudo, o investigador considera que ainda há muito a fazer. Desde logo, a criação de equipas multidisciplinares de investigação, com médicos, psicólogos e engenheiros. Depois, a necessidade de equipar todos os carros--patrulha das polícias com máquinas fotográficas – para que os modelos em computador sejam o mais fiéis possível. Por fim, é também necessário um investimento na formação dos investigadores – a quem cabe fazer o croqui dos sinistros.
OUTROS DADOS
OPERAÇÃO PRIMAVERA
Cinco pessoas morreram nas estradas na sexta-feira e no sábado, os dois primeiros dias da operação Primavera da GNR, que termina à meia-noite de hoje. No mesmo período, os 461 acidentes ocorridos provocaram também 11 feridos graves e 169 feridos ligeiros.
ATROPELAMENTOS
Entre Janeiro e Novembro do ano passado, de acordo com a PSP, ocorreram perto de 12 mil acidentes de trânsito na cidade de Lisboa, dos quais 807 foram atropelamentos.
CINTO DE SEGURANÇA
Um estudo divulgado em Bruxelas na semana passada prova que Portugal é o país da Europa com pior taxa de utilização do cinco de segurança.
Ricardo Marques
In CM Hoje
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