Dou-vos um exemplo:
Referi recentemente no tópico dos "Amores e Desamores" que o meu ódio de estimação dos anos 80 foi a Renault. Tal fenómeno nunca nada teve a ver com os carros em si - que até eram bons - mas com o facto de os típicos condutores dos mesmos me irritarem solenemente.
Prendamos um pouco mais a atenção na palavra "típicos".
Existirão condutores típicos de uma determinada marca ou modelo?
No caso da Renault, os "culpados" foram os condutores do Renault 19. A economia portuguesa cresceu desmesuradamente a partir de 1985. Quem trabalhava, como eu, reparou que repentinamente - e quase sem aviso - passou a poder comprar mais coisas.
Foi a época das compras em grupo, do aparecimento do crédito bancário mais acessível (em 1980 pagavam-se 20% ou mais de taxa de juro num empréstimo para habitação própria) e o rendimento disponível das famílias foi subitamente "aumentado". Houve mais dinheiro, muito por "culpa" do Fundo Social Europeu, e gastou-se.
Resultado lógico: O parque automóvel expandiu-se (quem não tinha carro pode comprar um) e - melhor - renovou-se. Os vetustos 127, R4, 2CV, Pug 104, Opel 1204, Seat Fura, que andavam a "bater" desde os anos 70 puderam - finalmente - descansar.
Surgiram então para os recém-endinheirados portugueses novas oportunidades de transporte: Citroen BX, Fiat Tipo/Tempra, Opel Kaddet/Astra, mas - especialmente - Renault 19.
Temos de compreender duas coisas fundamentais: O crédito Renault (Renault Gest - coisa nova e tentadora) e a política de preços agressiva da marca.
Quem guiava há 10 anos um 127 passou a poder disfrutar de um grau de conforto muito superior e a dar uma impressão de "status" superior (foi neste período que nasceu o mítico status, não tenham ideias...). Isso implicava, desde logo, uma nova postura na estrada: Os alhos e cebolas na chapeleira, o esqueleto no retrovisor e o pinheirinho-de-cheiro foram rapidamente substituidos pelo braço pendurado da janela e os Ray-Bans apitosgantes. E uma calma, uma grande calma, própria de quem conduz - finalmente - uma longa limousine.
É claro que o relato é exagerado.
É próprio de um puto recém-encartado, com sangue na guelra, que tem pressa para tudo e não aceita bem a mudança de atitude, quase de um dia para o outro, da população automobilística.
Adoptei para mim (erradamente como é claro) que todos os R19 que via na estrada eram potenciais inimigos do Estado, que iriam arrastar-se eternamente até me derreterem os neurónios de aborrecimento ou matar-me de tédio até os conseguir ultrapassar.
Não me perguntem como, mas esta imagem criou-se na minha cabeça, e durante anos não vagou espaço.
A pergunta é: Será que podemos atribuir, a um determinado modelo, um condutor típico?
Exs: R19 - Lentos e pachorrentos, Saxo Cup - Zé do Boné dos picanços, Seat Ibiza Van - idem, Civics kitados - ibidem, Mercs W124 - Construtores, BM's - Playboy's, Y10 - Gajas, Jipes muito grandes - Tias da Linha, etc?
Ou será que a nossa vivência, cada vez mais cosmopolitana, nos força a criar padrões de abstração do caso-a-caso para nos poupar à observação dos detalhes?
Sempre que vemos um Saxo Cup, com faróis à-lá-Lexus devemos começar a abrir as garrafas de NOx ou pode ser um avô em ritmo de passeio?
Digam da vossa experiência...
Referi recentemente no tópico dos "Amores e Desamores" que o meu ódio de estimação dos anos 80 foi a Renault. Tal fenómeno nunca nada teve a ver com os carros em si - que até eram bons - mas com o facto de os típicos condutores dos mesmos me irritarem solenemente.
Prendamos um pouco mais a atenção na palavra "típicos".
Existirão condutores típicos de uma determinada marca ou modelo?
No caso da Renault, os "culpados" foram os condutores do Renault 19. A economia portuguesa cresceu desmesuradamente a partir de 1985. Quem trabalhava, como eu, reparou que repentinamente - e quase sem aviso - passou a poder comprar mais coisas.
Foi a época das compras em grupo, do aparecimento do crédito bancário mais acessível (em 1980 pagavam-se 20% ou mais de taxa de juro num empréstimo para habitação própria) e o rendimento disponível das famílias foi subitamente "aumentado". Houve mais dinheiro, muito por "culpa" do Fundo Social Europeu, e gastou-se.
Resultado lógico: O parque automóvel expandiu-se (quem não tinha carro pode comprar um) e - melhor - renovou-se. Os vetustos 127, R4, 2CV, Pug 104, Opel 1204, Seat Fura, que andavam a "bater" desde os anos 70 puderam - finalmente - descansar.
Surgiram então para os recém-endinheirados portugueses novas oportunidades de transporte: Citroen BX, Fiat Tipo/Tempra, Opel Kaddet/Astra, mas - especialmente - Renault 19.
Temos de compreender duas coisas fundamentais: O crédito Renault (Renault Gest - coisa nova e tentadora) e a política de preços agressiva da marca.
Quem guiava há 10 anos um 127 passou a poder disfrutar de um grau de conforto muito superior e a dar uma impressão de "status" superior (foi neste período que nasceu o mítico status, não tenham ideias...). Isso implicava, desde logo, uma nova postura na estrada: Os alhos e cebolas na chapeleira, o esqueleto no retrovisor e o pinheirinho-de-cheiro foram rapidamente substituidos pelo braço pendurado da janela e os Ray-Bans apitosgantes. E uma calma, uma grande calma, própria de quem conduz - finalmente - uma longa limousine.
É claro que o relato é exagerado.
É próprio de um puto recém-encartado, com sangue na guelra, que tem pressa para tudo e não aceita bem a mudança de atitude, quase de um dia para o outro, da população automobilística.
Adoptei para mim (erradamente como é claro) que todos os R19 que via na estrada eram potenciais inimigos do Estado, que iriam arrastar-se eternamente até me derreterem os neurónios de aborrecimento ou matar-me de tédio até os conseguir ultrapassar.
Não me perguntem como, mas esta imagem criou-se na minha cabeça, e durante anos não vagou espaço.
A pergunta é: Será que podemos atribuir, a um determinado modelo, um condutor típico?
Exs: R19 - Lentos e pachorrentos, Saxo Cup - Zé do Boné dos picanços, Seat Ibiza Van - idem, Civics kitados - ibidem, Mercs W124 - Construtores, BM's - Playboy's, Y10 - Gajas, Jipes muito grandes - Tias da Linha, etc?
Ou será que a nossa vivência, cada vez mais cosmopolitana, nos força a criar padrões de abstração do caso-a-caso para nos poupar à observação dos detalhes?
Sempre que vemos um Saxo Cup, com faróis à-lá-Lexus devemos começar a abrir as garrafas de NOx ou pode ser um avô em ritmo de passeio?
Digam da vossa experiência...
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