Dentro do universo dos 1.4 a gasolina da nova geração, Bravo T-Jet e Leon TSI são as últimas novidades, orientadas para um cliente jovem que procura um modelo com uma vocação mais desportiva. O preço é um argumento forte destas duas propostas, mas a dinâmica também, já que estamos perante dois motores de 1,4 litros sobrealimentados por um turbocompressor – com 125 cv, no caso do Seat, e com 150 cv, no caso do modelo italiano.
Felizmente que a evolução tecnológica tem seguido o caminho de motores mais pequenos com níveis de potência superiores. É que, apesar de a fiscalidade nacional estar a aumentar a componente ambiental, a verdade é que a cilindrada dos motores continua a ter um peso importante, o que torna estes dois modelos muito apetecidos para os portugueses.
Estética, Construção, Segurança
Face à orientação dos dois modelos, a estética não podia estar mais de acordo com a filosofia pretendida. Tanto o Bravo como o Leon têm uma pose desportiva, sobretudo com as jantes em causa (17’’), que completam o apelo do design.
A nova geração do Bravo é bem conseguida e traz muito mais emoção nas suas linhas do que o anterior Stilo, enquanto que o Seat também atrai o olhar, apesar de já não ser, propriamente, uma novidade. Mas que continua a ter uma agressividade muito própria, é inegável.
Antes de acedermos ao interior, importa referir que ambos os modelos estão bem equipados no que respeita a elementos de segurança: vários airbags (frontais, laterais à frente e de cortina), ABS com EBD, controlo electrónico de estabilidade e de tracção, além de pontos Isofix e da possibilidade de se desligar o airbag do passageiro. O aviso de colocação dos cintos de segurança (sempre incómodo, mas muito útil) também marca presença nos dois. O Fiat acrescenta ainda os encostos de cabeça activos que protegem de lesões cervicais, no caso de um embate traseiro.
Conforto, Habitáculo, Equipamento
No interior, a primeira percepção é de que o Leon tem o tecto mais baixo e que o Bravo é melhor para pessoas altas. Mesmo assim, o modelo espanhol tem um habitáculo espaçoso (em termos relativos, claro), mesmo para quem viaja atrás, onde oferece maior liberdade para as pernas do que o Fiat. O modelo italiano não compromete, mas afunila mais na zona dos pés, o que, em deslocações mais demoradas, pode promover queixas em adultos.
Mais atrás, na mala, o Fiat é o mais generoso, com um volume de carga de 400 litros, uma capacidade acima da média, que traz vantagens na hora de viajar. O Leon fica-se pelos 341 litros, mas oferece um acesso melhor, já que o plano de carga no Bravo é elevado, o que pode castigar as costas no momento de colocar um objecto pesado.
O aspecto interior é envolvente nos dois modelos. O Leon exibe melhores acabamentos, mas, como o Bravo, também combina plásticos duros com outros de toque maleável. Curiosamente, em zonas inversas: no Seat é a moldura do painel de instrumentos que é em plástico, enquanto que no Bravo o melhor material está precisamente aqui, ou seja, mais perto da vista.
No que toca a arrumação, nomeadamente para pequenos objectos, ambos têm gaveta por baixo do banco do condutor, bolsas nas portas e porta-copos, mas o Fiat tem um espaço adicional no apoio de braços dianteiro (bipartido), que não existe no seu rival. Em compensação, esta versão Sport--Up está mais recheada de equipamento de série do que o seu adversário: apenas para citar alguns exemplos, a regulação em altura do banco do passageiro, os vidros eléctricos traseiros, o ar condicionado automático, o alarme, o cruise-control e os sensores de chuva e de pressão dos pneus são opções no Fiat, que tem a seu favor o interface Blue & Me (com entrada USB) e as luzes direccionais, que se acendem com o movimento do volante.
O “nosso” Leon vinha ainda equipado com um novo sistema de navegação com ecrã táctil, estreado com esta versão, opcional que custa 1425 euros, mas que se revelou muito rápido, fácil e intuitivo de utilizar.
Posto de condução, Comportamento
Se o leitor chegou até aqui, então é porque quer realmente saber como é que estes “mil e quatrocentos” se movem na estrada. Em primeiro lugar, temos de confessar que gostamos mais da envolvência que o Leon oferece ao condutor.
A postura ao volante é melhor (no Bravo as costas do banco não acompanham tão bem os ombros), é mais baixa, e o design da instrumentação, com o taquímetro, de pequenas dimensões, ao centro, tem outro apelo... É uma consideração subjectiva? Claro que sim. Mas são coisas que se sentem. Além disso, a disposição dos mostradores do Bravo não é muito bem conseguida, por estarem virados para fora, o que dificulta a visibilidade de alguns números do velocímetro. Se calhar, números que não interessam (para bem da carta de condução...), mas é sempre importante estarem visíveis.
O apoio lateral dos bancos desportivos é eficaz nos dois, quando as curvas apertam, e as regulações disponíveis permitem uma amplitude de ajustes favorável a todo o tipo de gostos e estaturas. A visibilidade traseira no Seat é mais limitada do que no seu concorrente latino.
Quando o pé direito ganha finalmente liberdade, é notória a maior energia do motor T-Jet. Exibe boa pujança em qualquer faixa de regime, o que muito contribui para o prazer de condução que se sente ao volante. Fosse o tacto da direcção menos vago e o comando da caixa mais rápido e preciso, e o prazer poderia ser ainda maior.
É que estes são, tão somente, dois dos mais importantes elementos na interacção entre o homem e a máquina e a diferença para o Leon sente-se. O modelo espanhol não demonstra a mesma garra em termos de prestações puras, mas a superior qualidade do châssis vem ao de cima quando se aumenta o ritmo em estradas sinuosas.
A direcção transmite boa informação do que se passa com as rodas dianteiras e o comando da caixa é preciso e fácil de se manusear. Além disso, o Bravo conta com um ESP permanente, o que o mantém mais seguro, mas que não permite avaliar da mesma forma todo o potencial em curva.
A suspensão independente às quatro rodas do Seat parece levar a melhor face à do modelo italiano, que recorre a um eixo de torção traseiro. O Leon é mais acutilante na inserção em curva, a direcção (mais uma vez...) comunica bem com o condutor e o eixo traseiro demonstra maior agilidade em situações exigentes.
Não obstante, o Bravo tem um nível de aderência elevado, com os pneus 225/45 Continental ContiSportContact 3, montados em insinuantes jantes escuras de 17 polegadas, a terem um papel importante nesta sensação. Não é tão eficaz em curva como o seu concorrente, mas tem atitude que chegue para convencer o tipo de cliente a que se destina e ainda tem um pormenor extra: o botão Sport, responsável por um planeamento diferente da gestão electrónica do motor, no sentido de melhorar a resposta ao acelerador e dar outro ênfase à condução desportiva.
O que, por sinal, é conseguido: o Bravo avança com outra decisão ao mínimo movimento do acelerador, sobretudo a baixa rotação, onde o momento de binário ganha mais destaque. O Leon não tem esta função, mas consegue o binário máximo (200 Nm) logo às 1500 rpm, o que torna a utilização igualmente agradável em “baixas”.
Numa utilização quotidiana, o Bravo tem a seu favor o sistema Hill Holder que “segura” o veículo quando se arranca em subidas íngremes.
A insonorização está em bom plano nos dois, mas fica a sensação de o motor T-Jet ser mais ruidoso que o TSI.
Já o conforto não é propriamente um argumento destes modelos, estando ambos equipados com suspensão desportiva, mas o compromisso conseguido chega a ser razoável para quem opta por estas versões. A travagem é competente nos dois, apesar do tacto mais esponjoso do pedal do Bravo; para se imobilizar a partir dos 90 km/h, o Leon precisa de 29 metros, menos um do que o seu rival.
Performances e Consumos
Pelo contrário, quando a palavra de ordem é acelerar, o motor sobrealimentado por um turbo de geometria fixa, com 150 cv, lança o modelo transalpino para os 0-100 km/h em apenas 8,7 segundos. O escalonamento da caixa de seis velocidades aproveita bem as capacidades do motor, o que se prova com a celeridade das recuperações registadas, conseguidas com a ajuda preciosa da baixa inércia do turbocompressor. O Leon é mais lento, mas, na prática, nunca sentimos falta de fulgor quando é necessário.
Uma das curiosidades do motor TSI é o intercooler refrigerado a água, o que permitiu ganhar espaço e colocá-lo no colector de admissão. Uma solução que os técnicos da marca defendem ser mais eficaz.
O Bravo é mais espevitado em aceleração pura, mas o motor do Leon não teme nada em termos de suavidade e elasticidade, graças a um turbo que atinge uma pressão de 1,8 bar, valor que, no Fiat, chega aos 1,9 bar.
Os consumos registaram médias ponderadas entre 8,4 l/100 km (Leon) e 8,8 l/100 km, o que é semelhante a muitos turbodiesel de 2,0 litros com potências equivalentes.
Conclusão:
Depois de verificar a tabela de pontuações é fácil perceber que dificilmente este confronto podia ter sido mais renhido. O recém-chegado modelo italiano tem um design apelativo combinado com um comportamento convincente, bom equipamento de segurança, uma mala generosa e... prestações imbatíveis. O menor aprumo de alguns acabamentos, a postura ao volante menos ergonómica e um châssis menos acutilante, foram os principais factores que ditaram a derrota do Bravo.
O Leon, na nova versão 1.4 TSI, ganha pela margem mínima, graças ao equipamento (ainda) mais completo e a uma condução mais envolvente, em todos os aspectos, quando se pisa o acelerador, mesmo não sendo o mais veloz destes 1.4 da nova geração.
*** Fonte - Automotor ***
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