“Portugal devia ter vergonha de não ser um país de topo mundial”, diz economista dinamarquês Steen Jakobsen
País teve "conjugação sortuda de fatores" para economia crescer o que cresceu. Mas foi pouco – e o governo "reclama louros" por algo a que é "totalmente alheio". Eis Portugal visto por Steen Jakobsen.
https://observador.pt/especiais/port...teen-jakobsen/
Alguns excertos da entrevista
Falando sobre Portugal, o Steen considerava que tinha havido a “pior troca de governo de sempre” mas que, na realidade, não importaria quem estava no governo porque a sorte do país seria, na verdade, determinada por fatores que não estão nas mãos de qualquer executivo. Além disso, dizia que dificilmente a economia cresceria mais do que 1%, mas acabou por crescer mais de 2%. Foi demasiado pessimista?
Em Portugal, vocês tiveram a conjugação de fatores mais sortuda que podiam ter tido. E, visto de fora, é curioso ver o governo a reclamar os louros de algo a que foram e são totalmente alheios. Como disse na outra entrevista, importa muito pouco aquilo que os políticos fazem — pelo contrário, na maioria das vezes a influência que os políticos podem ter é uma prejudicial. No melhor dos casos, não acrescentam nem tiram nada ao resto da sociedade.
E o investimento público, devia ser maior ou menor?
Na área do investimento público, acho particularmente preocupante que se esteja a reduzir o investimento na educação — que é o principal indicador de produtividade futura — e na saúde, onde as dívidas aos fornecedores se acumulam. A educação preocupa-me, acima de tudo, porque, como economista, é fácil constatar que os países mais produtivos do mundo — países como a Austrália, a Dinamarca, Suécia, Suíça, etc. — o que têm em comum é um sistema educativo que prepara bem as pessoas para serem ágeis, produtivas, qualificadas.
Nada mudou em Portugal? O país continua tão vulnerável quanto dantes?
Eu sou um enorme fã de Portugal mas sinto que existe quase um orgulho em que nada mude. É frustrante, porque este devia ser um dos países mais prósperos da Europa e um dos melhores do mundo. Os portugueses são laboriosos, adaptáveis. Têm este sol, o turismo, têm um bom nível de inglês e o português é uma das línguas mais faladas em todo o mundo. Apetece dizer: deviam ter vergonha de não serem um dos 3 ou 4 países melhores, mais prósperos, do mundo não só em riqueza, mas, também, em dinâmica.
Mas Portugal é, de facto, um dos melhores países do mundo — pelo menos a julgar por um estudo que publicámos recentemente, da comunidade de expatriados InterNations. Segundo esse estudo, Portugal é o sexto melhor país para se viver, com uma das melhores qualidades de vida de todo o globo.
Sim, mas isso na perspetiva de quem vem de fora, certo? Não tenho dúvidas de que Portugal está no top 3 dos países, no mundo, para os estrangeiros. Para quem tem dinheiro, esta é uma das melhores sociedades onde se pode viver. Mas esse não é o principal indicador para que temos de olhar. Como é a qualidade de vida para os portugueses? O que vejo é que os portugueses deixaram de poder comprar casas nas próprias cidades, os empresários têm a vida dificultada por incerteza fiscal, regulação e burocracia excessivas, e, portanto, a prioridade é tornar as coisas melhores para os portugueses. É preciso aproveitar melhor os recursos existentes e as infraestruturas que têm — muitas das quais foram cortesia da União Europeia. Vocês têm quantas auto-estradas que vão de Lisboa ao Porto? Três? E não vale a pena culpar os políticos, porque os políticos são o que são e são os cidadãos que os escolhem. O problema é que não há lideranças que queiram colocar a pergunta: que país é que Portugal quer ser daqui a 10 anos?
País teve "conjugação sortuda de fatores" para economia crescer o que cresceu. Mas foi pouco – e o governo "reclama louros" por algo a que é "totalmente alheio". Eis Portugal visto por Steen Jakobsen.
https://observador.pt/especiais/port...teen-jakobsen/
Alguns excertos da entrevista
Falando sobre Portugal, o Steen considerava que tinha havido a “pior troca de governo de sempre” mas que, na realidade, não importaria quem estava no governo porque a sorte do país seria, na verdade, determinada por fatores que não estão nas mãos de qualquer executivo. Além disso, dizia que dificilmente a economia cresceria mais do que 1%, mas acabou por crescer mais de 2%. Foi demasiado pessimista?
Em Portugal, vocês tiveram a conjugação de fatores mais sortuda que podiam ter tido. E, visto de fora, é curioso ver o governo a reclamar os louros de algo a que foram e são totalmente alheios. Como disse na outra entrevista, importa muito pouco aquilo que os políticos fazem — pelo contrário, na maioria das vezes a influência que os políticos podem ter é uma prejudicial. No melhor dos casos, não acrescentam nem tiram nada ao resto da sociedade.
E o investimento público, devia ser maior ou menor?
Na área do investimento público, acho particularmente preocupante que se esteja a reduzir o investimento na educação — que é o principal indicador de produtividade futura — e na saúde, onde as dívidas aos fornecedores se acumulam. A educação preocupa-me, acima de tudo, porque, como economista, é fácil constatar que os países mais produtivos do mundo — países como a Austrália, a Dinamarca, Suécia, Suíça, etc. — o que têm em comum é um sistema educativo que prepara bem as pessoas para serem ágeis, produtivas, qualificadas.
Nada mudou em Portugal? O país continua tão vulnerável quanto dantes?
Eu sou um enorme fã de Portugal mas sinto que existe quase um orgulho em que nada mude. É frustrante, porque este devia ser um dos países mais prósperos da Europa e um dos melhores do mundo. Os portugueses são laboriosos, adaptáveis. Têm este sol, o turismo, têm um bom nível de inglês e o português é uma das línguas mais faladas em todo o mundo. Apetece dizer: deviam ter vergonha de não serem um dos 3 ou 4 países melhores, mais prósperos, do mundo não só em riqueza, mas, também, em dinâmica.
Mas Portugal é, de facto, um dos melhores países do mundo — pelo menos a julgar por um estudo que publicámos recentemente, da comunidade de expatriados InterNations. Segundo esse estudo, Portugal é o sexto melhor país para se viver, com uma das melhores qualidades de vida de todo o globo.
Sim, mas isso na perspetiva de quem vem de fora, certo? Não tenho dúvidas de que Portugal está no top 3 dos países, no mundo, para os estrangeiros. Para quem tem dinheiro, esta é uma das melhores sociedades onde se pode viver. Mas esse não é o principal indicador para que temos de olhar. Como é a qualidade de vida para os portugueses? O que vejo é que os portugueses deixaram de poder comprar casas nas próprias cidades, os empresários têm a vida dificultada por incerteza fiscal, regulação e burocracia excessivas, e, portanto, a prioridade é tornar as coisas melhores para os portugueses. É preciso aproveitar melhor os recursos existentes e as infraestruturas que têm — muitas das quais foram cortesia da União Europeia. Vocês têm quantas auto-estradas que vão de Lisboa ao Porto? Três? E não vale a pena culpar os políticos, porque os políticos são o que são e são os cidadãos que os escolhem. O problema é que não há lideranças que queiram colocar a pergunta: que país é que Portugal quer ser daqui a 10 anos?
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