Al-Amarah, Iraque, Junho 2006 (Episódio 1)
A cerca de 160km a norte de Bassorá encontramos a estrategicamente bem colocada cidade de Al-Amarah. Olhando para um mapa do Iraque é fácil compreender porquê; a vital estrada 6, que liga a capital Bagdade aos valiosos poços de petróleo, refinarias e porto de mar no Golfo, atravessa o coração da cidade. Além disso, a fronteira com o Irão a poucas dezenas de quilómetros tornam a entrada de armas e abastecimentos para grupos rebeldes muito difícil de controlar.
Al-Amarah (quadrado azul) é um ponto de passagem importante da auto-estrada 6 (a vermelho) entre a capital e Bassorá e o Golfo. A fronteira á direita com o Irão significava o fácil e directo fornecimento de armas e homens às milícias Xiitas.
No início da Operação Iraqi Freedom em 2003 (Operação Telic designa a participação inglesa) o povo de Al-Amarah encheu as ruas em desafio ás forças policiais do governo de Saddam. Poucas semanas depois as tropas inglesas ocuparam a área e responsabilizaram-se pela segurança pública. Mas a coligação errou completamente na análise á reacção da população xiita da cidade – da mesma forma que desprezavam a opressão do Saddam, ressentiam-se de igual modo do que entendiam ser a ocupação americana-inglesa. Em Junho de 2003 o líder Muqtada al-Sadr incentivou a população a pegar em armas contra os ocupantes e organizou uma milícia armada (Mahdi) e, em poucos meses, a região mergulhou numa espiral de violência.
O Princess of Wales’s Royal Regiment (PWRR) era uma das unidades responsáveis por policiar toda esta área e entregar a “pasta” ás forças de segurança iraquianas assim que possível. Mas os ataques constantes com IEDs (engenhos explosivos improvisados), snipers e morteiros tornavam a atmosfera muito tensa - não havia comunicação, muito menos confiança, entre as forças inglesas e iraquianas. Para contrariar esta ameaça foi organizada uma incursão nocturna na noite de 10-11 de Junho de 2006 com o intuito de capturar os comandantes da milícia Mahdi e confiscar os stocks de armas que se suspeitava existirem em Al-Amarah.
O IFV Warrior foi (a ainda continua a ser) o principal veículo de combate de infantaria do Exército Inglês. Um autêntico “filho” da Guerra Fria, chegou mesmo no final desse período ás linhas da frente, em finais dos anos 80. Robusto, fiável, potente e bem armado, revelou-se adaptável e flexível nos vários cenários onde participou; Iraque (1991 e 2003), Kosovo, Bósnia e Afeganistão.
A companhia C do Regimento preparou os seus 3 pelotões (7, 8 e 9), cada um composto por quatro veículos de combate de infantaria (IFV) Warrior. Na azáfama dos preparativos para a missão, uma jovem soldado de 18 anos, técnica médica de combate, aguardava ansiosamente enquanto as tripulações davam vida aos poderosos motor V8 Perkins e vários soldados confirmavam (repetidamente) se todas as armas estavam armadas e preparadas. O nervosismo era aparente, porque embora não fosse a sua primeira patrulha, uma missão até ao centro de Amarah iria ser, de certeza, “quente”. Até aquela noite a jovem ainda não tinha sentido o terror de um tiroteio e o ferimento mais grave que foi chamada a tratar tinha sido uma mordida de mosquito. Nas próximas horas, tudo isso iria mudar…
Excelente foto que demonstra todos os dez tripulantes (motorista, comandante, artilheiro e sete soldados) bem como mantimentos e suprimentos essenciais, ferramentas e armas. À esquerda vemos duas armas anti-tanque LAW, que complementam as armas pessoais da infantaria. Na sua maioria os soldados estão armados com a espingarda padrão L85 (SA80) mas dois deles carregam a versão L86 de apoio e outro (terceiro da direita) uma metralhadora média L7 (versão inglesa da venerável FN MAG). Não espanta que o espaço no interior do veículo fique… aconchegado.
O motor do Warrior é um dos seus pontos fortes e a razão da excelente mobilidade em qualquer terreno. Os motores anteriores da Rolls-Royce não ficaram conhecidos pela fiabilidade, por isso, para a nova geração de veículos dos anos 80, os ingleses apostaram no fabricante Perkins e, no caso do Warrior, num excelente V8 diesel de 17400cc, com turbo, refrigerado a ar e com transmissão automática Allison. Com 550cv ás 2300rpm, o motor era uma versão “cortada” do V12 instalado nos tanques Challenger – uma excelente ideia para economizar em peças e facilitar o treino e a manutenção.
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