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    Vignette – Hughes OH-6 Cayuse (Loach), o melhor helicóptero ligeiro de combate? 🚁

    Bien Hoa, Vietname, 1965 (Episódio 1)

    Para qualquer entusiasta da aviação, a guerra no Vietname imediatamente invoca imagens dos versáteis F-4 Phantom, dos impressionantes bombardeiros B-52 Stratofortress ou dos ágeis MiG-21 Fishbed. Se perguntarem por helicópteros, bem, a resposta é ainda mais fácil; o Bell UH-1 Iroquois (nome que ninguém usava), mas universalmente conhecido como “Huey”, foi “O” helicóptero do Vietname. Mas como em todos os conflitos, também existiram máquinas que, apesar de não partilharem a mesma fama, partilharam os mesmos perigos e as mesmas tribulações. Uma dessas máquinas foi o fenomenal Hughes OH-6 Cayuse (nome que também ninguém usava), mais conhecido como “Loach”. Leve, incrivelmente ágil, potente e robusto, o pequeno helicóptero era venerado pelas tripulações. A missão de reconhecimento e busca que desempenhavam exigia coragem (ou “loucura”, conforme as opiniões), perícia e uma boa dose de sorte. E o “Loach” era a máquina certa para o trabalho.

    O OH-6 “Loach” no seu habitat natural. Muito leve (menos de 500kg vazio e cerca do dobro á descolagem) e extremamente directo nos controlos, o helicóptero da Hughes revelou-se uma soberba peça de engenharia aeronáutica e um autêntico deleite de pilotagem. Segundo os pilotos do Exército Americano que transitaram da anterior geração de helicópteros com motores de pistão (mais pesados e lentos) foi como passar de uma “banheira” Cadillac para um Porsche!




    Dizia-se no Vietname que as tripulações de reconhecimento tinham tomates do tamanho de bolas de basquete mas cérebros do tamanho de ervilhas. Não era para menos. Ao contrário da maioria dos pilotos, as tripulações de helis de reconhecimento viam o inimigo olhos nos olhos. Voavam a poucos metros do solo, á procura de pequenos sinais como pegadas, fogueiras ou algum objecto estranho. Faziam-no logo acima da copa das árvores ou até, por baixo delas! Quando encontravam o inimigo o procedimento padrão era marcar o alvo com uma granada de fumo e pedir um ataque de artilharia ou a ajuda dos gunships “Cobra” mas, com o inimigo a poucos metros de distância, o contacto violento era muitas inevitável e violento. Mas a melhor forma de conhecer mais sobre as missões e experiências destas tripulações, e dos seus “Loach”, é ouvir da boca dos próprios. O piloto Tom Pearcy recorda como numa das suas primeiras missões no Vietname a bordo do “Loach” as coisas não correram como o planeado…


    Um dos primeiros OH-6A a chegar ao Vietname, neste caso o S/N 65-12925, o décimo da linha de montagem. Também um dos primeiros a ser equipado com a Minigun XM27 no lado esquerdo da fuselagem. As tripulações de reconhecimento pagaram um preço elevado em tripulações e helicópteros. Segundo o DoD foram perdidos 4867 helicópteros no Sudeste Asiático entre Janeiro de 1962 e Março de 1973. A maioria eram, obviamente, “Hueys” mas, em termos proporcionais, os “Loach” sofreram o maior número de baixas; dos 1419 produzidos, 842 foram perdidos na guerra.



    O meu código era Blue Ghost 18 e, junto com um UH-1C “Huey” gunship (pilotado pelo Greg e pelo Owens), tínhamos de averiguar uma base inimiga numa pequena aldeia. O terreno era composto por colinas cobertas com árvores altas e espessas e periodicamente surgiam pequenas clareiras e arrozais. Quando chegamos á aldeia notei algo que já tinha ouvido falar várias vezes mas nunca visto pessoalmente; tocas de aranha (spyder holes). Vi quatro ou cinco ao longo de um trilho rumo á aldeia. Chamei a atenção do meu artilheiro, o Ed Gay, e voltei para trás para ver melhor. Quando me aproximei, as coberturas dos buracos foram pelos ares e saíram de lá vários indivíduos a disparar com AK-47s e espingardas de ferrolho! Claro que a vinha voz subiu várias oitavas quando gritei; “Estão a disparar contra nós!”. O Ed ficou tão exaltado que atirou uma granada de fumo sem tirar a cavilha. O Greg perguntou pelo rádio de onde vinham os disparos e eu respondi; “Ali atrás! Ali atrás!”, sem lhe dar indicações nenhumas de direcção. Fiz nova curva de 180º e dirigi-me á área para a marcar com fumo, e desta vez executei alguns ziguezagues, mas voltamos a ser atingidos algumas vezes. A minha voz subiu mais seis oitavas mas conseguimos lançar a granada de fumo no alvo. Enquanto o Greg lançava foguetes de 70mm eu transmitia-lhe as correcções necessárias; “um pouco mais á esquerda”, “50 metros mais á frente”. A seguir ouvi o Ed com uma voz trémula; “Sir…Sir…uh…árvore!!” Olhei para a frente e vi a maior árvore imaginável mesmo em frente ao meu nariz! Virei á esquerda com toda a força e falhei a árvore por meros centímetros (na realidade seriam 1 ou 2 metros). Mas isto tudo fazia parte do plano VC, porque aquela árvore estava armadilhada com minas claymore, ou algo parecido. A explosão arrancou a cauda e o rotor traseiro, o motor começou a fazer uma chiadeira terrível e parou logo a seguir. Voei por mais uns 50 metros e senti que o controlo do helicóptero estava a fugir-me rapidamente. As palavras do meu instructor vieram-me á mente; “Há sempre lugar para aterrar um helicóptero numa emergência”. Ah é, sabichão? Então onde vou aterrar no meio deste arvoredo todo? Acabei por fazer uma auto-rotação a velocidade zero e nivelei no topo das árvores. Caímos uns 9-12 metros por entre a folhagem e acabamos invertidos com as pás do rotor a cortar uma espécie de clareira. Desliguei o sistema eléctrico e saímos do “Loach” apenas com as nossas armas e algumas granadas de fumo. Lembro-me de ver os meus dedos ensanguentados, o meu co-piloto tinha as calças molhadas e o artilheiro sofreu uns arranhões na cara, cortesia da sua metralhadora M60. Por isso, nada de grave. Depois descobrimos que as granadas de fumo eram todos de cor verde - não iriam servir de muito no meio daquela vegetação. Mas o Greg, mesmo assim, encontrou-nos sem grande problema e algum tempo depois ouvimos um veículo blindado de transporte de tropas M113 que nos recolheu. O “Loach” foi mais tarde recolhido e reparado.

    Os engenheiros da Hughes fizeram um trabalho notável no design do Cayuse. A colocação do motor (neste caso, uma turbina Allison T-63 de 250cv de potência e apenas 62kg de peso!) num ângulo de 42º permitiu economizar muito espaço com a vantagem adicional de tornar o acesso mais fácil para manutenção. A lendária robustez e “sobrevivência” do helicóptero também muito deve á localização da turbina. Conforme o diagrama, a turbina, caso de solte numa queda ou aterragem de emergência, não atinge a tripulação. O cubo do rotor e a transmissão também estão montados acima da antepara principal, o que aumenta a rigidez da estrutura. Em helicópteros como o famoso “Huey”, as turbinas, transmissão e cubo estão montados directamente acima da cabina e facilmente esmagam a tripulação numa crash-landing. Outro problema da montagem “alta” destes componentes é o elevar do centro de gravidade e, num impacto frontal, o peso vai forçar e enterrar o cockpit contra o obstáculo. Dizia-se no Vietname que; “se tiveres mesmo de te despenhar num helicóptero, que seja num Loach”…


    Editado pela última vez por Icterio; 12 March 2024, 16:27.

    #2
    “That’s a damn Minigun!”, Los Angeles, USA, 1995 (Episódio 2)


    As tripulações de reconhecimento dos “Loach” eram compostas por três homens; piloto, observador e, na traseira, o artilheiro (geralmente no lado direito). O artilheiro, na prática, passava mais tempo fora do helicóptero do que dentro, com um pé (ou dois!) no patim á procura do inimigo ou a disparar a sua arma. Outra opção, que ficava ao critério das tripulações ou da unidade, era o transporte do sistema M27, a famosa Minigun, na cabine no lado esquerdo. Esta opção substituía o artilheiro mas não era consensual; muitos pilotos preferiam confiar no par de olhos extra do artilheiro e, no caso de uma aterrarem de emergência, três homens sempre eram melhores do que apenas dois para defender o perímetro - enquanto aguardavam o resgate. Caso a Minigun fosse transportada o observador acumulava as funções do artilheiro.

    O sistema M27 envolvia vários componentes; a General Electric M134 de seis canos de calibre 7,62x51mm, o motor eléctrico, o essencial (e muitas vezes esquecido) delinker e a caixa de munição (2000 cartuchos no caso do “Loach”). Tudo somado; 140kg, daí a necessidade de suprimir o artilheiro – até porque ficava quase sem espaço. Mas, caso pensem em usar uma Minigun “á la Schwarzenegger”, não se esqueçam de adicionar a pesada bateria. Outras particularidades; ao contrário de uma arma convencional, como a metralhadora M60 ou espingarda M16 ou AKM, que utilizam de uma forma ou outra os gases e/ou o recuo do disparo para completar o ciclo e alimentar o cartucho seguinte, a Minigun é eléctrica. È o motor eléctrico que acciona todo o mecanismo, por isso, sem energia, nada feito. Mas também significa que é possível ajustar a cadência de disparo com relativa facilidade – é apenas uma questão de alterar a potência do motor. No “Loach” o piloto podia optar por duas cadências; ao pressionar o botão do gatilho até ao primeiro estágio a arma disparava a 2000 disparos por minuto mas se pressionasse totalmente o gatilho a cadência dobrava para 4000. Mas para poupar a arma e evitar sobreaquecimento o sistema só permitia rajadas de 3 segundos por cada pressão no gatilho. Existia uma mira no cockpit do “Loach” mas os pilotos preferiam marcar com um lápis directamente no vidro o ponto de impacto – era mais rápido e intuitivo. O piloto podia movimentar a arma em elevação (+10º a -24º) mas não em azimute; para acompanhar alvos lateralmente era necessário recorrer aos pedais e apontar todo o helicóptero.




    Pode parecer estranho designar como “Minigun” uma arma com tamanho poder de fogo mas é apenas uma questão de perspectiva. A M134 foi desenvolvida a partir de outro produto extremamente bem sucedido da General Electric; o canhão M61 Vulcan de 20mm, usado por quase todos os caças e caça-bombardeiros da USAF/USN desde os anos 60 até aos dias de hoje. E quando colocados lado a lado, conforme a imagem, é normal considerar a M134 como uma mini…


    James Howard, que serviu no Vietname, lembra algumas das vantagens (e desvantagens) da Minigun;

    “Ao aproximar-se de um alvo durante um combate, o piloto dependia de vários factores para se manter vivo. Claro, dependia das suas habilidades como piloto assim como da habilidade do artilheiro em providenciar fogo supressivo quando necessário e da ajuda e cooperação dos outros helicópteros na formação. No entanto, alguns pilotos preferiam levar a Minigun em vez do artilheiro. A arma não só dispunha de um enorme poder destrutivo mas também suscitava um efeito psicológico no piloto; dava-lhe confiança e a impressão de que, quando disparava, ele era indestrutível. A Minigun fazia um belíssimo rugido e cuspia uma linda labareda de 30cm de largura e um metro de comprimento. Claro que a pontaria do piloto era limitada mas a disparar 80 balas de 7,62mm por segundo o mais certo era atingir qualquer coisa. E na mente do piloto, este poder de fogo obrigava o NVA (Exército do Povo do Vietname) e os “gooks” (termo derrogatório histórico atribuído a todos os elementos do vietcong - e não só) a esconderem-se e a não dispararem em retorno. Outro efeito era de que quando a Minigun disparava, o piloto não conseguia ouvir mais nada (nem os disparos da artilharia anti-aérea inimiga) dando-lhe a (falsa) sensação de que estava totalmente seguro.”




    Ainda sobre a lendária habilidade do “Loach” em sobreviver a danos e proteger a tripulação; numa aterragem forçada a estrutura oval da cabine reforçada funcionava como uma bola de bowling a alta velocidade, rompendo por entre árvores e arbustos e resguardando os ocupantes. Outros componentes, como rotores, cauda e patins facilmente se separavam mas a cabina mantinha-se intacta e não era incomum após um acidente grave (e geralmente letal noutros helicópteros) ver a abalada tripulação sair pelo próprio pé do seu interior. Na imagem mais acima, vemos um “Loach” do 5th Cavalry, abatido por um RPG que, felizmente, não detonou. Se repararem, no painel do motor, encostado á cabina, vê-se claramente o buraco de entrada do rocket. A tripulação sobreviveu. A outra imagem mostra um “Loach” abatido em Agosto de 1969. Apesar dos danos graves e de ter perdido muitas peças, o “Ovo Voador” protegeu a “peça” mais importante, a tripulação que, apesar de ferida, sobreviveu. E provando que os soldados nunca morrem, este “Loach” foi reparado e continuou a servir até 1972.

    Comentário


      #3
      Bính Thuy, Vietname, 1970 (Episódio 3)


      Os pilotos mais prudentes de “Loach” não perdiam tempo em ensinar os seus observadores a pilotar o helicóptero para a eventualidade do piloto ser atingido ou incapacitado. Em Dezembro de 1970 o piloto Rick Waite e o seu observador, Bill Hanegmon, procuravam sinais de actividade inimiga numa área perto do Mekong Delta conhecido como “Wagon Wheel”. Rick explica como as lições de voo que deu ao colega Bill acabaram por salvar a vida de ambos;

      “Aproximamo-nos a cerca de 10 quilómetros da bacia do rio quando vimos vários sinais frescos de actividade inimiga. Havia pegadas recentes na areia junto á água e pequenos barcos na margem escondidos sobre a folhagem. De repente o Bill gritou; “Corta á esquerda!, Corta á esquerda! Vai ali um homem a fugir!”. Virei imediatamente e o Bill começou a descarregar com a M60. Subitamente ouvi uma explosão ensurdecedora junto á minha porta e tudo ficou completamente negro. Conseguia ouvir o Bill a gritar; “Eu controlo o helicóptero, eu controlo o helicóptero!”. Fiquei temporariamente desnorteado, não conseguia ver ou entender nada. Depois, finalmente, percebi que tinha o capacete virado a 90 graus. No momento da explosão virei tão rápido que a minha cabeça girou dentro do capacete. Enquanto endireitava o capacete (e recuperava a visão) ouvia o Bill a comunicar com o heli de controlo a avisar que tínhamos sido atingidos e que ele estava a pilotar o aparelho. Havia sangue a voar por todo o lado no cockpit e parecia que vinha da minha cabeça. Comecei a apalpar a cara á procura de algum ferimento ou buraco mas sem sorte. O Bill continua a comunicar e ouvi as instruções pelo rádio para ele tentar aterrar numa clareira a 3 quilómetros de distância. Inclinei-me no assento e o sangue continuava a escorrer da cara mas já tinha desistido de procurar a fonte, pensei que era melhor estar quieto e esperar que o Bill aterrasse.”

      O “Loach” de Rick Waite (s/n 66-17792) ficou neste estado após o incidente de Dezembro de 1970. Vemo-lo aqui na base após ter sido recolhido por outro helicóptero mas, apesar dos enormes estragos, foi reparado e serviu na Guarda Aérea Nacional nos EUA.


      “O Bill manteve-se a baixa altitude e alinhou o “Loach” numa pequena estrada entre dois arrozais mas quando estávamos mesmo prestes a aterrar, a pouco mais de 10 metros de altitude, o motor parou! Estávamos demasiado baixos para uma auto-rotação normal e demasiado altos e lentos para uma auto-rotação baixa. Na realidade pouco interessava, porque nunca cheguei a ensinar ao Bill nenhuma manobra de auto-rotação! Mas, tendo em conta tudo o que tinha acontecido até agora, o Bill estava a desenrascar-se muito bem. Assim que o motor parou, não havia nada a fazer, íamos aterrar de uma forma ou de outra e o Bill conseguiu manter a traseira direita, que não é fácil quando não se tem potência. Aterramos na estrada, sim senhor, mas como o rotor não tinha potência para amparar a descida os patins partiram-se e o “Loach” derrapou da estrada para dentro do arrozal. As pás do rotor embateram na água, flexionaram e deceparam o rotor de cauda. A água começou a encher o cockpit e nadamos para fora dali enquanto um dos nossos “slicks” (UH-1 Huey) aterrava para nos dar assistência. Quando tentei pôr-me de pé senti uma dor lancinante e sentei-me no chão de imediato. Deitaram-me numa maca, levaram-me para o “Huey” e começaram a ver o que se passava comigo. Todos estavam á procura de algum ferimento grave na minha cabeça por causa do sangue na cara e no capacete. Depois reparei num pequeno e perfeito buraco na minha bota. Acertaram-me no pé, por isso doeu tanto quando me levantei! Levaram-se para o hospital onde me consertaram. Em três semanas já estava de volta ao activo."

      Bill Hanegmon, observador e “piloto substituto em caso de emergência”, segura no colete balístico (jocosamente conhecido como “chicken plate”) que o salvou de ferimentos graves no abdómen.

      "O nosso “Loach” foi atingido em 13 locais. Um deles no radiador de óleo, que levou ao sobreaquecimento do motor que acabou por parar. Calculamos que fomos atingidos por um explosivo colocado nos ramos das árvores, um tipo de armadilha anti-helicóptero que os vietcongues eram mestres. Aquele sangue todo no cockpit vinha do meu nariz; ao virar a cabeça tão rápido, a borda do capacete acertou-me na penca e provocou aquele cenário assustador, mas não era nada de grave. E, num “Loach” sem portas, o vento do rotor espalhou o sangue por todo o lado como uma batedeira! Mas se há coisa na minha vida que dou por bem empregue foi o tempo a ensinar o Bill a pilotar. Fazer aquela recuperação a baixa altitude e aterrar naquelas condições – foi simplesmente inacreditável. Soube mais tarde que o Bill repetiu a proeza quando outro piloto foi atingido! Nunca recebeu uma condecoração por nenhum dos incidentes. Ele era um daqueles rapazes que se desenrascava em tudo mas sempre tranquilo e calmo e continuou assim depois da guerra, como detective em Hibbing no Minnesota.”

      Este “Loach” veterano de guerra do Vietname não se reformou com o fim do conflito. Nada disso, após servir na Guarda Aérea Nacional encontrou trabalho na polícia de Gainesville, onde continuou a perseguir vilões durante 14 anos! Em Janeiro de 2000 reencontrou-se com o seu amigo Rick Waite.


      Mas a história não ficou por aqui. Passados uns 30 anos, mais precisamente em Janeiro de 2000, Rick Waite recebe um convite da Polícia de Gainesville, na Florida, para os visitar. Dois policias, Dale Witt e John Rouse, receberam o veterano do Vietname e levaram-no para um hangar pouco iluminado.

      “Naquele hangar tão escuro, parecia que estava a ver um fantasma. Quando me aproximei comecei a sentir uma descarga de adrenalina. O meu “Loach”!! Os remendos na fuselagem e na porta do motor mostravam as feridas que ambos sofremos há 30 anos. Mas estava espectacular. Toquei-lhe e fiquei a olhar para ele fixamente, feliz por também ter sobrevivido estes anos todos. Uma coisa é certa, envelheceu muito melhor do que eu! A seguir os meus anfitriões abriram as portas do hangar e empurraram o “Loach” para a luz do sol. Depois aconteceu! Um deles entregou-me um capacete e perguntou;

      “Estás pronto?”

      Fiquei estupefacto. Iam mesmo levar-me para um passeio!

      “Nós não te vamos levar para um passeio. TU vais nos levar para um passeio”.

      Não podia acreditar. Mas assim foi, a 5 quilómetros do aeroporto e a 150 metros de altitude o John disse;

      “Força, agora é todo teu”.

      Nas duas horas seguintes o “Loach” ficou nas minhas mãos e eu voltei aos meus 20 anos de idade como piloto de reconhecimento…”

      Comentário


        #4
        “Fish Hook”, Cambodja, 1970 (Episódio 4)

        “Às vezes voávamos com as meninas da Cruz Vermelha, que apelidávamos de “Donut Dollies”, nas visitas ás tropas no terreno. Tem de compreender que raramente víamos mulheres com “olhos redondos”. Com sorte, ao levar o CO ao hospital, conseguíamos olhar de relance para uma enfermeira, por isso estas visitas das “Donut Dollies” tinham grande impacto na moral dos homens. Quando nos chamavam para ir buscá-las, uma sentava-se na frente, junto com o piloto, e a outra ia atrás. Nestas ocasiões especiais era nossa tradição aterrar de frente á entrada nas bases avançadas. A rapariga ao lado do piloto (usavam sempre saias curtas) tinha de levantar a perna por cima da alavanca do cíclico para sair do “Loach”, e os soldados na base adoravam apreciar a…vista. Isto funcionava com as miúdas novas mas as mais experientes, e que já conheciam as nossas manhas, pediam-nos para colocar o helicóptero de lado. Numa ocasião fui incumbido de transportar uma miúda para uma base na linha da frente. Era muito bonita e foi um prazer vê-la ajustar-se no assento e a apertar o cinto. Quando estávamos prontos para arrancar ela pergunta-me se eu a deixava pilotar. “Claro” disse eu, “assim que estivermos no ar”. Mas ela responde que consegue descolar e eu pensei, “sim claro, deves conseguir, deves”. Disse-lhe que lhe entregava os controlos mas ia estar atento a tudo o que fazia. Claro que eu pensava que ela não sabia o que estava a pedir e enquanto pensava no meu discurso condescendente de que “descolar um helicóptero é mais difícil do que parece” e… já estávamos no ar! Ela descolou! Suave, transição para voo, uso acertado dos pedais, tudo impecável. Pilotou o caminho todo até á base e fez a aproximação para aterrar onde eu assumi os controlos e aterrei o “Loach” – provavelmente ela conseguiria aterrar também. Ela disse-me que pilotava sempre que tinha oportunidade e os pilotos eram muito prestativos - ou ela aprendia muito rápido ou os instrutores davam-lhe toda a atenção. Sempre me perguntei se ela teria seguido carreira na aviação. Jeito não lhe faltava.”


        Não perguntem.


        Kurt Schatz, piloto de “Loach” da “1st Cavalry”, conta um episódio assustador ocorrido durante uma incursão no Cambodja que o próprio gosta de intitular de “Menino Perdido”;

        “Encontramos montes de acção a Oeste do famoso “Fish Hook” – comboios de camiões do exército Norte Vietnamita carregados de tropas. Os nossos “Cobras” (Bell AH-1 Hueycobra) faziam fila para mergulhar e metralhar as colunas inimigas, faziam-me lembrar os filmes da 2ª Guerra Mundial, com os P-51 Mustang a atacar as tropas nazis. No regresso á base encontramos o maior inimigo do helicóptero; uma parede sólida de nuvens no horizonte a tapar todas as saídas do Cambodja. Não tinha muitas alternativas, estava a escurecer e o combustível a escassear. Voávamos a 600 metros de altitude e sabíamos que aquela tempestade iria engolir-nos a qualquer momento. O líder do grupo, a bordo de um “Cobra”, ordenou pelo rádio;

        “Vamos descer. Vamos passar por debaixo das nuvens e voltar para casa.”

        Ainda estamos bem dentro do Cambodja quando penetramos na tempestade. O “Cobra” ia na frente mas era difícil acompanhá-lo e perdemo-lo rapidamente de vista nas nuvens. Desesperado, pedi por ajuda;

        “Não te consigo ver! Perdi-te de vista!”

        Mas a resposta do “Cobra” deixou-me branco como a cal;…

        “Desculpa rapaz, mas estás por tua conta. Vamos para IFR (voo por instrumentos) e ganhar altitude.”


        O Bell AH-1 “Cobra” foi outro fenomenal helicóptero de combate. O primeiro verdadeiro gunship, era venerado pelas suas tripulações e pelas tropas no solo. Extremamente bem armado, ágil e muito rápido – tão rápido que até um “Loach” tinha dificuldades em o acompanhar, conforme Kurt Schatz confirmou numa incursão no Cambodja em 1970.

        "Estava fo… lixado. A chuva era tanta que os rádios deixaram de funcionar, um por um. Como é que vou para casa agora? A última transmissão que ouvi do “Cobra” foi; “Dirigi-te para Leste…”, e o rádio pifou de vez. Pairei por cima de umas árvores para tentar perceber a minha situação mas a chuva intensificava cada vez mais. A única forma de ver qualquer coisa era por esticar a cabeça para fora da cabina mas a escuridão era total. Não tinha escolha. Liguei as luzes para iluminar a selva abaixo. Assim, continuei lentamente para Leste, logo acima da cobertura das árvores. A dada altura, ao lado do meu patim direito vi uma estrada de terra. Pelo menos era um caminho que podia seguir. E lá fomos, lentamente acima da estrada, com as luzes acesas, á vista de todos os inimigos nas redondezas! Ao longe, na estrada, vimos uma luz fraca por entre a chuva forte. Desliguei as minhas luzes de imediato e discuti com a minha tripulação o que fazer. “Rapazes, temos de decidir. Aquela luz ou é o inimigo ou as nossas tropas. Eu não faço ideia, se calhar ainda estamos no Cambodja. Temos duas hipóteses; voltamos para trás nesta estrada e ficamos sem combustível ou descobrimos que luz é aquela.

        Eles já podiam ter disparado, por isso eu acreditava que não deveria ser o inimigo. Concordámos em descobrir a fonte da luz. Aterrei o “Loach” na estrada e saquei do meu revolver .38. O observador saiu com o lançador de granadas M79 e o artilheiro saltou com a M60 e várias fitas de munição por cima dos ombros e desapareceu na escuridão em direcção á misteriosa luz. Depois do que pareceu ser uma eternidade, o artilheiro finalmente regressou e com o maior sorriso que já vi na vida.

        “Sir, é a nossa malta! È uma base de artilharia.”

        Graças a Deus, o menino perdido encontrou o caminho para casa."


        Um artilheiro, armado com uma metralhadora M60, demonstra a posição de vigilância e combate a bordo de um “Loach”. Esta posição aumentava bastante os ângulos de visão e de tiro do artilheiro mas também o expunham mais ao fogo inimigo. È possível ver também as placas de blindagem laterais do assento frontal.

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