Depois da Grécia, será o Reino de sua majestade o próximo alvo dos especuladores?
19/04/10, 10:55
Por Vítor Norinha/OJE
O Reino Unido vai percorrer um "caminho acidentado" em Abril e Maio, afirma o analista-chefe da Schroders, Keith Wade, e o economista para a Europa, Azad Zangana. Perguntam se, com a solução da Grécia à vista, não será o Reino Unido o próximo alvo.
O Reino Unido pode ser o próximo alvo dos especuladores, depois do ataque à Grécia. Em causa, está a credibilidade do plano de austeridade do Governo de Sua Majestade para cortar o grande défice público, um dos mais elevados da Europa. A credibilidade do plano do Governo pode, inclusive, colocar em causa o rating da dívida soberana que é "triple A". Este é um terreno fértil para os especuladores. Os analistas esperam uma maior volatilidade da libra esterlina e queda no mercado de capitais no curto prazo.
Os analistas da Schroders afirmam, no documento de estratégia do final de Março, que o chanceler Alistar Darling não indicou qualquer novo detalhe, nomeadamente como irá o Governo cortar o enorme défice público. Tudo indica que o mercado terá de esperar por eleições gerais, a correrem em Maio próximo, para ter a noção do verdadeiro Orçamento de Estado. Recorde-se que no último trimestre do ano passado, o PIB do Reino Unido cresceu até aos 0,3%, quando, no trimestre anterior, não tinha passado de 0,1% positivo. No entanto, os dados relativos à indústria de base e às vendas a retalho não mostraram um grande começo de ano.
Fevereiro mostrou uma melhoria sustentada. Os analistas da Schroders estão, por isso, mais cautelosos quanto ao crescimento relativo ao primeiro semestre do ano, nomeadamente por causa do nível de inflação, que se espera que venha a subir. É com base neste argumento que a Schroders não conta com uma aceleração da economia, contrastando com alguns "surveys" de entidades privadas. A estimativa para a inflação anualizada em Janeiro atingiu os 3,5%, depois do imposto sobre o consumo (IVA/VAT) ter sido reposto no nível dos 17,5%, quando anteriormente se situava nos 15%. Em Fevereiro, os analistas salientam o facto de a inflação ter recuado, mas ter-se mantido substancialmente superior ao nível do final de 2009. A depreciação da libra esterlina levou à rápida subida da inflação importada.
A Schroders sustenta que a chave para o Reino Unido conseguir reduzir o défice estrutural está, a curto prazo, no aumento dos impostos e no corte da despesa pública. As melhorias estruturais das finanças públicas do país vão levar muitos anos a serem implementadas e serão difíceis, adiantam.
Quem se segue?
Ao longo dos últimos dias, a UE conseguiu um acordo geral para acudir com empréstimos de emergência, a par da assistência do Fundo Monetário Internacional. No entanto, esta ajuda pode não ser suficiente porque, potencialmente, o mesmo modelo poderá ser necessário para outros países que estão a ter dificuldades em solver dívidas e que sofrem com a subida do custo de emissão de nova dívida nos mercados internacionais.
Aquilo que foi conseguido foram empréstimos bilaterais de 30 mil milhões de euros à Grécia por parte dos países da Zona Euro e ainda 15 mil milhõs de euros por parte do FMI.
A questão que se coloca é: quem será a vítima seguinte?
A análise da Schroders indica que será o Reino Unido. Num trabalho comparativo das várias economias da OCDE, que tem por base os défices face ao PIB e a dívida pública em percentagem do PIB, a economia do Reino Unido aparece como aquela que é mais vulnerável, sobretudo porque nos próximos dois meses a incerteza política no país poderá levar os especuladores a tentarem o "ataque".
Portugal, Espanha e Irlanda são as economias que se seguem dentro da Zona Euro, em termos de vulnerabilidade. Estas economias poderão vir a receber o mesmo tipo de ajuda da Grécia. No entanto, nota a Schroders, o bloco da Zona Euro poderá não ser tão generoso com o Reino Unido como o será com os seus próprios membros. E isto porque as eventuais ajudas a países com défices excessivos implicam uma alteração estrutural ao Tratado de Maastricht e o Reino Unido foi uma das economias que se opôs a essas reformas.
Recordam os analistas que se está, objectivamente, perante uma situação perversa quando se pensa que a estabilidade futura da Zona Euro está a ser afectada por um país que não tem verdadeira intenção de vir a ingressar naquele bloco económico. A agravar a situação está o facto de o plano de consolidação fiscal do Reino Unido não satisfazer a Comissão Europeia.
O Reino Unido, para receber ajuda da Zona Euro, deveria avançar com um plano "tipo Grécia", com cortes mais drásticos na despesa pública e reformas mais profundas. Este é um cenário virtualmente impossível, pois está-se a semanas de eleições gerais.
O principal argumento de quem defende uma ajuda imediata ao Reino Unido está no facto de as políticas públicas estarem paulatinamente a levar o país para uma recessão, a par do facto de a sua situação não ser muito diferente da de outros países da Zona Euro que têm défices excessivos.
Nuvens
A "nuvem fiscal no horizonte" foi algo que resultou da rápida acção dos vários governos mundiais na tentativa de reduzirem o impacto da recessão na economia mundial. Mas aquilo que aconteceu foi uma substituição da crise no sector privado por uma outra no sector público.
Dados do FMI antecipam que as dívidas públicas poderão subir 35% entre 2007 e 2014, o que significa que a dívida pública em percentagem do PIB poderá situar-se nos 109%, sendo que o Canadá e a Alemanha serão as únicas economias do G7 com dívida abaixo dos 100% do PIB.
19/04/10, 10:55
Por Vítor Norinha/OJE
O Reino Unido vai percorrer um "caminho acidentado" em Abril e Maio, afirma o analista-chefe da Schroders, Keith Wade, e o economista para a Europa, Azad Zangana. Perguntam se, com a solução da Grécia à vista, não será o Reino Unido o próximo alvo.
O Reino Unido pode ser o próximo alvo dos especuladores, depois do ataque à Grécia. Em causa, está a credibilidade do plano de austeridade do Governo de Sua Majestade para cortar o grande défice público, um dos mais elevados da Europa. A credibilidade do plano do Governo pode, inclusive, colocar em causa o rating da dívida soberana que é "triple A". Este é um terreno fértil para os especuladores. Os analistas esperam uma maior volatilidade da libra esterlina e queda no mercado de capitais no curto prazo.
Os analistas da Schroders afirmam, no documento de estratégia do final de Março, que o chanceler Alistar Darling não indicou qualquer novo detalhe, nomeadamente como irá o Governo cortar o enorme défice público. Tudo indica que o mercado terá de esperar por eleições gerais, a correrem em Maio próximo, para ter a noção do verdadeiro Orçamento de Estado. Recorde-se que no último trimestre do ano passado, o PIB do Reino Unido cresceu até aos 0,3%, quando, no trimestre anterior, não tinha passado de 0,1% positivo. No entanto, os dados relativos à indústria de base e às vendas a retalho não mostraram um grande começo de ano.
Fevereiro mostrou uma melhoria sustentada. Os analistas da Schroders estão, por isso, mais cautelosos quanto ao crescimento relativo ao primeiro semestre do ano, nomeadamente por causa do nível de inflação, que se espera que venha a subir. É com base neste argumento que a Schroders não conta com uma aceleração da economia, contrastando com alguns "surveys" de entidades privadas. A estimativa para a inflação anualizada em Janeiro atingiu os 3,5%, depois do imposto sobre o consumo (IVA/VAT) ter sido reposto no nível dos 17,5%, quando anteriormente se situava nos 15%. Em Fevereiro, os analistas salientam o facto de a inflação ter recuado, mas ter-se mantido substancialmente superior ao nível do final de 2009. A depreciação da libra esterlina levou à rápida subida da inflação importada.
A Schroders sustenta que a chave para o Reino Unido conseguir reduzir o défice estrutural está, a curto prazo, no aumento dos impostos e no corte da despesa pública. As melhorias estruturais das finanças públicas do país vão levar muitos anos a serem implementadas e serão difíceis, adiantam.
Quem se segue?
Ao longo dos últimos dias, a UE conseguiu um acordo geral para acudir com empréstimos de emergência, a par da assistência do Fundo Monetário Internacional. No entanto, esta ajuda pode não ser suficiente porque, potencialmente, o mesmo modelo poderá ser necessário para outros países que estão a ter dificuldades em solver dívidas e que sofrem com a subida do custo de emissão de nova dívida nos mercados internacionais.
Aquilo que foi conseguido foram empréstimos bilaterais de 30 mil milhões de euros à Grécia por parte dos países da Zona Euro e ainda 15 mil milhõs de euros por parte do FMI.
A questão que se coloca é: quem será a vítima seguinte?
A análise da Schroders indica que será o Reino Unido. Num trabalho comparativo das várias economias da OCDE, que tem por base os défices face ao PIB e a dívida pública em percentagem do PIB, a economia do Reino Unido aparece como aquela que é mais vulnerável, sobretudo porque nos próximos dois meses a incerteza política no país poderá levar os especuladores a tentarem o "ataque".
Portugal, Espanha e Irlanda são as economias que se seguem dentro da Zona Euro, em termos de vulnerabilidade. Estas economias poderão vir a receber o mesmo tipo de ajuda da Grécia. No entanto, nota a Schroders, o bloco da Zona Euro poderá não ser tão generoso com o Reino Unido como o será com os seus próprios membros. E isto porque as eventuais ajudas a países com défices excessivos implicam uma alteração estrutural ao Tratado de Maastricht e o Reino Unido foi uma das economias que se opôs a essas reformas.
Recordam os analistas que se está, objectivamente, perante uma situação perversa quando se pensa que a estabilidade futura da Zona Euro está a ser afectada por um país que não tem verdadeira intenção de vir a ingressar naquele bloco económico. A agravar a situação está o facto de o plano de consolidação fiscal do Reino Unido não satisfazer a Comissão Europeia.
O Reino Unido, para receber ajuda da Zona Euro, deveria avançar com um plano "tipo Grécia", com cortes mais drásticos na despesa pública e reformas mais profundas. Este é um cenário virtualmente impossível, pois está-se a semanas de eleições gerais.
O principal argumento de quem defende uma ajuda imediata ao Reino Unido está no facto de as políticas públicas estarem paulatinamente a levar o país para uma recessão, a par do facto de a sua situação não ser muito diferente da de outros países da Zona Euro que têm défices excessivos.
Nuvens
A "nuvem fiscal no horizonte" foi algo que resultou da rápida acção dos vários governos mundiais na tentativa de reduzirem o impacto da recessão na economia mundial. Mas aquilo que aconteceu foi uma substituição da crise no sector privado por uma outra no sector público.
Dados do FMI antecipam que as dívidas públicas poderão subir 35% entre 2007 e 2014, o que significa que a dívida pública em percentagem do PIB poderá situar-se nos 109%, sendo que o Canadá e a Alemanha serão as únicas economias do G7 com dívida abaixo dos 100% do PIB.
Aos mais entendidos do assunto, que acham desta analise?
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