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“Corrupção nunca foi prioridade”

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    #31
    Originalmente Colocado por Omega Ver Post
    Sempre gostei do termo terapia de choque. Aliás sempre fui um adepto.

    Mas gosto também de ser bastante racional e pensar as coisas um pouco mais além do que está evidente à vista desarmada.
    E neste caso ou o tabalho de casa é muito bem feito ou quando menos esperarmos somos apunhalados pelas costas por quem menos esperávamos.

    Portanto continuo a dizer que neste caso, só começando mesmo por baixo. Assim posso separar o trigo do joio. De outra forma ganho a batalha mas perco a guerra.
    No ano passado tivemos aqui um problema na usaf relacionado com abastecimentos para o Afeganistan, enquanto só prendemos peões não resolvemos o problema parecia que estavamos a cortar cabeças de serpente a uma hidra, por cada uma que caia nascia outra, era simplesmente substituido.

    Quando fomos ao fundo da questão foi dificil e encontramos muita resistencia, muitos dos big fish eram oficiais de familias importantes vindos de west point, mas felizmente departamento que investiga este tipo de situações não dependia da hierarquia apesar de ser composto por militares, responde ao serviço de intelligence que responde ao presidente.

    Não se resolveu todos os problemas mas deu para parar o bleeding de uma arteria importante.

    Comentário


      #32
      Originalmente Colocado por Omega Ver Post
      Excelente visão!

      Afinal quem detém o poder somos nós!

      Começa-se a limpeza de baixo para cima, muito bem dito! Quando chegar o topo, lá temos de começar com uma nova desinfestação por baixo, e nunca mais saimos disto.

      Comentário


        #33
        Ok.
        Então vamos começar de cima para baixo.
        Leis que o permitam quem as faz ? Os de cima ou os de baixo ?

        Neste País, conforme o interesse, ou está tudo dentro da Lei, ou a Lei é anti-constitucional.

        Comentário


          #34
          Originalmente Colocado por AirManMajor Ver Post
          No ano passado tivemos aqui um problema na usaf relacionado com abastecimentos para o Afeganistan, enquanto só prendemos peões não resolvemos o problema parecia que estavamos a cortar cabeças de serpente a uma hidra, por cada uma que caia nascia outra, era simplesmente substituido.

          Quando fomos ao fundo da questão foi dificil e encontramos muita resistencia, muitos dos big fish eram oficiais de familias importantes vindos de west point, mas felizmente departamento que investiga este tipo de situações não dependia da hierarquia apesar de ser composto por militares, responde ao serviço de intelligence que responde ao presidente.

          Não se resolveu todos os problemas mas deu para parar o bleeding de uma arteria importante.
          A chave da questão se calhar está aqui. Temos um organismo destes por cá ?

          Comentário


            #35
            Figura do ano


            Saldanha Sanches: O inimigo da corrupção que o povo ouvia


            A frase de António Barreto faz a síntese do que foi o homem público: “José Luís Saldanha Sanches foi um homem atento às questões da decência e da moralidade nos assuntos de Estado, os seus comentários eram de um verdadeiro provedor informal. O povo ouvia-o e tinha confiança nele”.

            Na verdade, esta foi a herança pública que Saldanha Sanches, falecido em 14 de Maio passado, deixa a uma sociedade que elegeu como o palco central da sua intervenção cívica, fora dos partidos. Mas antes de chegar a esta dimensão de ‘provedor informal', ou de senador da intervenção cívica, Saldanha Sanches protagoniza uma longa e incomum história de empenhamento social, político e cultural.
            Nasceu em Lisboa, no ano de 1944, no seio de uma família de comerciantes. Estudou no Valsassina, um dos mais elitistas colégios de Lisboa, no Colégio Moderno e no Liceu Camões. Aqui, aos 15 anos, já andava metido na política. A conjugação da amizade de Ruben Carvalho, colega e amigo desde a 4ª classe no Valsassina, com a campanha presidencial de Humberto Delgado, em 1958, empurram-no para a militância no PCP. Antes dos 21 conhece a sua primeira prisão. "Éramos amigos aí desde a quarta classe e estivemos quase sempre na mesma turma. Primeiro no Valsassina, depois no Camões e só pelos 19 anos deixámos de nos ver todos os dias. Ele foi para a Faculdade de Direito e eu fui trabalhar para ‘O Século'", recorda Ruben de Carvalho, que também só soube da prisão do amigo já na cadeia. Para trás ficavam os dias de leituras clandestinas dos clássicos do marxismo, a partilha de ideias sobre a história, a política e a economia. O tempo era vivido com a velocidade da paixão política emergente e voracidade pelo saber.
            Ruptura com o PCP
            Saldanha Sanches, espírito de grande inquietude intelectual, acompanha a cisão no movimento comunista internacional entre soviéticos e chineses e acaba por romper com o PCP ainda na cadeia de Peniche. "Quando saiu de Peniche vinha com uma vontade enorme de comer os bifes da Portugália e devo ter sido a primeira pessoa a quem telefonou, depois de ter ido a casa", evoca Ruben de Carvalho. Os dois amigos foram até à Portugália recuperar tempo perdido em matéria de convivência política mas o "Zé Luís não vinha o mesmo", diz Ruben, recordando a ruptura de Saldanha Sanches com o PCP. Só voltaram a falar como velhos amigos três décadas depois. Pelo meio passara o trânsito de Saldanha Sanches para o MRPP, o 25 de Abril, o Verão Quente de 1975, a ruptura com o ‘MR' e um namoro rápido com a UDP, o regresso à vida académica, o novo protagonismo do já professor e reputado fiscalista na vida pública, não pelos partidos mas pela intervenção cívica nos jornais e nas televisões.
            O 25 de Abril apanha-o preso em Caxias mas, ironia das ironias, acaba por ser, porventura, o primeiro preso político do regime democrático: em Junho de 1974, sendo um dos líderes destacados do MRPP, é preso quatro meses no forte militar de Elvas pelo Comando Operacional do Continente (COPCON), força liderada pelo estratega militar da revolução, Otelo Saraiva de Carvalho.
            Regresso à universidade
            Acabados os dias da revolução com o golpe de 25 de Novembro de 1975, que estabilizou o regime, Saldanha Sanches, então já a passar dos 30 anos, regressa em força a um sítio de onde o seu espírito nunca saiu: a Faculdade de Direito de Lisboa. Agora, já não para a intervenção política partidária mas para estudar a sério. Licencia-se em 1980, obtém o grau de mestre em 1986 e doutora-se em 1996. Pelo meio, Saldanha Sanches teve uma experiência como jornalista de economia na agência Anop.
            Jaime Antunes, que entrou na mesma altura (1980) para a agência e, mais tarde, viria a levar Saldanha Sanches para o grupo de jornalismo económico que fundou, recorda que, logo aí, se manifestou o preconceito que, em parte, viria a marcar a vida universitária do fiscalista. Ficou entre os primeiros de um concurso de admissão para jornalistas mas não entrou logo porque a administração via nele "um perigoso esquerdista". Entrou depois e foi estagiário de Jaime Antunes, que viria a exercer o cargo de director de Informação da Anop. "Sempre teve uma generosidade enorme e uma grande intolerância contra o chico-espertismo. Na verdade, logo aí, já ele tinha uma enorme sensibilidade para desmontar e combater os mecanismos da corrupção e o desperdício dos governos".
            Esses foram os "anos do refluxo", na expressão da mulher, Maria José Morgado, para classificar a vida do casal após o desencanto político. Nasce a filha Laura, acabam os cursos, Maria José vai para a magistratura e Saldanha Sanches mergulha no mundo da universidade, que sempre amou. "Se, como académico, se preocupou com a justa distribuição da carga tributária entre os contribuintes, na sua intervenção pública escolheu também olhar ao outro lado da questão - o modo como o dinheiro dos contribuintes era gasto pelo Estado", recorda o fiscalista João Taborda Gama, que trabalhou com Saldanha Sanches e o acompanhou até ao último instante. João Taborda Gama, professor na Universidade Católica, simboliza a empatia que Saldanha Sanches provocou em gerações mais novas - de alunos a docentes. Ou, até, em sectores mais conservadores da Faculdade de Direito de Lisboa, como Soares Martinez, o seu filho Pedro Soares Martinez e mesmo Fernando Araújo, entre outros.
            Animosidade
            Não foi nestes sectores que Saldanha Sanches recolheu a animosidade que viria a causar-lhe públicos agravos nas provas de doutoramento e para catedrático. Para muitos, a explicação está, mais do que em velhos ressentimentos políticos, na tentativa de domesticar alguém que nunca se rendeu ao comércio dos pareceres. Saldanha Sanches vivia como sempre quis: dava aulas, trabalhava em casa, nunca se meteu de ‘casa aberta' em matéria de pareceres. "Gostava muito de se relacionar com o mundo empresarial, onde tinha grandes amigos, mas nunca entrou nesse ambiente de negócio", afirma Maria José Morgado, evocando casos que deixavam alguns amigos à beira de um ataque de nervos. O homem que tem uma sólida obra doutrinária cobrava quase ninharias por acções de muitos milhões. "Esse tipo de coisas, nos dias que correm, estão longe de criar amigos...", recorda Jaime Antunes. Essa postura, aliás, foi muito destacada por oficiais do mesmo ofício como António Lobo Xavier e Ricardo Sá Fernandes, entre outros.
            Ricardo Sá Fernandes, advogado especializado em direito fiscal e ex-secretário de Estado, considera que Saldanha Sanches tem uma obra académica que o coloca "entre os dois ou três fiscalistas mais importantes de sempre". Todavia, a academia, ou uma parte dela, "nunca gostou do seu estilo heterodoxo".
            No doutoramento, em 1996, Saldanha Sanches teve em Soares Martinez um apoio essencial. O velho professor, que tanto tinha sido politicamente atacado pelo jovem ‘MR' Saldanha Sanches, nutria um grande respeito intelectual pelo agora colega e travou o espírito de vingança de alguns. Mais tarde, em 2007, nas provas para catedrático, com Soares Martinez já jubilado, esse apoio faltou e Saldanha Sanches foi chumbado. "Alguns nunca lhe perdoaram a ligação doutrinária que fez entre a evasão fiscal e fenómenos de branqueamento de capitais e corrupção", afirma Ricardo Sá Fernandes, que lembra a serenidade de Saldanha Sanches na reacção ao ultraje: "Fico bem como coronel, nem todos têm que chegar a general".
            Na verdade, nunca lhe perdoaram esse combate à corrupção em frentes que não se podiam abrir, como a construção de verdades formais através de pareceres jurídicos, a manipulação da lei através de um legislador cada vez mais contaminado por interesses políticos de grupo ou escritórios de advogados transformados em verdadeiras fábricas de ‘organização legal' da corrupção.
            "A questão é que o José Luís era uma pessoa invulgar e de grande serenidade. Desperta muito cedo para a política, conseguia reconhecer que tinha defendido ideias erradas, e até absurdas, nesses tempos da extrema-esquerda, e faz um percurso notável na academia, com uma obra única. Leva, aliás, a universidade para o mundo exterior, através da sua participação cívica. Ele foi, de facto, um dos intelectuais portugueses mais respeitados do pós-25 de Abril", afirma Ricardo Sá Fernandes. A serenidade de que fala Sá Fernandes é, aliás, uma palavra-chave na personalidade de Saldanha Sanches. Acompanhou-o até na hora da morte. Foi serenamente que reagiu à notícia de ter um carcinoma gástrico, organizou toda a sua vida, respondeu a todos os compromissos, como o último livro ‘Justiça Fiscal', e despediu-se da mulher e da filha dizendo: "Gostei de tudo o que fiz na vida. Fiz tudo o que quis. Fui feliz e amo-vos".
            As suas cinzas vogam hoje ao sabor das marés atlânticas depois de terem sido lançadas às ondas da Ericeira. O seu exemplo ficou entre nós.

            Comentário


              #36
              "Lei pede provas impossíveis na corrupção"
              Maria José Morgado evoca o essencial da mensagem de Saldanha Sanches, que se confunde com a história do combate à corrupção e aos abusos de poder. Uma luta que, apesar dos estilos diferentes, também os uniu
              A projecção do combate à corrupção e à fraude fiscal na sociedade como objecto de intervenção cívica é um legado essencial que José Luís Saldanha Sanches deixou. Sente que esse combate tem hoje o apoio da sociedade civil de que necessitava?
              Maria José Morgado - O Zé Luís era um homem fascinado por uma relação moral com a colectividade que lhe dava força e ligação à vida e às pessoas. A coragem, a frontalidade, a determinação das suas denúncias sobre os escândalos da corrupção e a sua coerência de vida deixaram sementes - por muito que custe a certas pessoas.
              É uma mensagem que efectivamente passou?
              O seu último livro, ‘Justiça Fiscal', síntese do seu pensamento e editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, vendeu até agora mais de 23 000 exemplares, o que mostra que a mensagem passou junto de quem interessava: o cidadão anónimo e ansioso por justiça. Acontece que, este mesmo cidadão sabe, tem a certeza que o Zé Luís fez um percurso totalmente descomprometido e sem medo, num exemplo de integridade moral, de indiferença pelos bens materiais ou pelo nível da conta bancária. Dizer que foi um homem verdadeiramente livre não é mera retórica. Ele vivia como falava. Morreu com uma reforma de 1900 euros, um homem que deixou mais de 150 escritos fiscais e uma obra que pode ser avaliada no site que mantemos activo na internet. É uma luz que brilha e perdurará na nossa recordação. Um orgulho para a família. Um privilégio ter vivido com ele.
              É um combate que vale a pena mesmo quando cresce o cepticismo social à volta dos resultados da Justiça?
              Como sempre nos dizia o Zé Luís, "ou nos resignamos ou combatemos". Resignação não era com ele. Se considerarmos a corrupção de Estado e económica como o mais importante dos problemas políticos de hoje, se exigirmos condições eficazes de protecção dos denunciantes, se tivermos leis mais simples e tribunais mais capazes, a corrupção pode diminuir. Nada é impossível.
              Mas a óbvia falta de resultados da Justiça não faz das pessoas que travam esse combate uma espécie de ‘D. Quixotes' modernos?
              Não, pelo contrário. Não podemos parar a luta contra a corrupção. É uma guerra prolongada que tem avanços e recuos, mas que não admite desânimos. Foi o que aprendi com ele. Literalmente, até ao fim. Acabou o ‘Justiça Fiscal' na véspera de morrer, na cama 56 do Hospital de Santa Maria, completamente indiferente à doença destruidora e cruel.
              Um gesto que significa proibição de desistir. O seu último pensamento foi de preocupação genuína com estas questões de justiça e de ética.
              A história do combate ao crime económico em Portugal não foi sempre feita mais na mediatização das questões do que propriamente dentro do sistema político?
              O combate ao crime económico, nele incluindo a corrupção e o branqueamento de capitais, nunca foi uma verdadeira prioridade de política criminal. É a história quixotesca, essa sim, de denunciantes sem medo, de jornalistas ‘chiens de garde' e de polícias e magistrados dedicados, competentes e combativos. O segredo bancário protegeu prolongadamente a fraude fiscal, o mau uso dos dinheiros do Estado, a economia paralela, a corrupção, o branqueamento dos proventos do crime. Zé Luís denunciou-o ininterruptamente desde os anos 80. Na primeira fase, a sua intransigente defesa da importância do fim do sigilo bancário era mesmo considerada um escândalo por quem incluía, ridiculamente, as contas bancárias na intimidade da vida privada. Ele manteve a denúncia muitas vezes com grande ironia, por exemplo, nas crónicas semanais do ‘Expresso', onde caracterizava divertidamente a rede de subornos, o mistério das derrapagens das obras públicas, os escândalos fiscais. É a história do nosso empobrecimento, da falta de produtividade e de eficiência económica. A vida deu-lhe generosamente razão, quase vinte anos depois: primeiro com a quebra do sigilo fiscal nos casos de fraude e só agora, com a última reforma penal de 2010, para os casos penais! Na forma como sempre defendeu o fim do sigilo bancário, o Zé Luís mostrou como era um homem muito à frente do seu tempo - uma característica marcante da sua intervenção pública. A outra caracterização da situação estava ligada aquilo que ele designava por "carapaças jurídicas": leis suficientemente labirínticas, hipergarantísticas, rígidas, que serviam e servem de alimento à mecânica da corrupção. Explicou-o bem, vezes sem conta. Numa conferência em Setembro de 2009 arrancou gargalhadas ao público quando apresentou o "complicómetro", um modelo comicamente desenhado por ele para explicar a pouca seriedade das propostas fiscais dos partidos.
              Pensa que é claro para os nossos decisores políticos em geral que a fraude fiscal e a corrupção andam sempre de braço dado e são o principal obstáculo ao crescimento económico?
              Como dizia o José Luís, "um país é aquilo que forem a sua Administração Pública, a sua classe política e os seus tribunais". Que realidade se esconde sob a crise? Precisamente essa: a de um Estado capturado por interesses obscuros; um Estado incapaz de os combater, paralisado pelos maus interesses. A crise só veio acentuar esta fragilidade. Daí que ele tenha escolhido a ética fiscal e a justa repartição da carga fiscal como trincheiras de luta. Sem nunca esquecer o outro lado da questão: a denúncia dos desperdícios dos dinheiros do Estado, os perigos resultantes do aumento do peso do Estado e do alastramento de zonas do Estado, cada vez mais ocupadas por "bandos organizados" no assalto aos dinheiros do contribuinte.
              Falava muitas vezes, com a ironia que lhe era peculiar, de "assaltos à mão jurídica" para traduzir certas realidades de corrupção, nepotismo, tráfico de influências, supostos negócios no sector empresarial do Estado, cumplicidades entre políticos e supostos empresários, a descoberta jurídica das fabulosas reformas douradas, etc. A corrupção é protegida por leis confusas, por um Código do Processo Penal que exige provas impossíveis. A corrupção era para ele, também, uma forma de fazer negócios marcada pela incompetência e com prejuízo para o mercado e para as empresas honestas. Nesse aspecto, ele foi um aliado do bom capitalismo, da empresa cumpridora e eficiente. Uma ideia que lhe era muito cara, na defesa de um país capaz de produzir riqueza.
              Há falta de meios técnicos e humanos mas, na verdade, sobrevive já uma escassa crença nas virtudes purificadoras da justiça penal. Não lhe parece que uma grande parte dos comportamentos criminalizados, de forma suave ou de impossível concretização, estão hoje legalizados em leis administrativas, comerciais e fiscais? A tal "carapaça jurídica"...
              É a tal história: a corrupção mantém-se beneficiando de toda essa protecção legal, contraditoriamente. Importa dizer que ele se irritava com as demagogias neste campo. Ou seja, a desculpabilização recíproca entre legislador e juízes. Cada um deve assumir as suas responsabilidades efectivas. É sempre possível fazer mais qualquer coisa com o pouco que se tem.
              Mas aceitar pacificamente a ideia de "derrapagem de custos" nas obras públicas ou de "derrapagem da despesa" na administração do Estado, como tem sido habitual num certo tipo de discurso mediático, não é abrir a porta à corrupção e, desde logo, à falta de equidade na relação entre cidadãos e Estado?
              Claro que é. É a consagração da desigualdade, desde logo. Uma coisa é evidente: o Tribunal de Contas não pode continuar a chegar sempre só no fim, para contar os milhões gastos a mais, sem consequências para os decisores.
              Mais do que nunca, aliás, parece que, na relação entre certo tipo de poderes e a administração do Estado, vivemos em pleno o velho Natal do sinaleiro travestido de prendas bastante diversas do velho presunto e vinho do Porto que os portugueses davam àquela figura de autoridade... Não acha?
              Ah! "O Natal do Sinaleiro", o retrato divertido do Portugal das pequeninas corrupções transformado aos poucos no Portugal da corrupção "democratizada", dos pagamentos por fora, das comissões e das luvas, das empresas fartas de pagar subornos, da destruição de riqueza... da captura das funções sociais do Estado por interesses enganadores.
              A mensagem combativa que procura deixar tem encontrado eco nas gerações mais novas do Ministério Público ou, também aí, encontra a indiferença que parece existir hoje em relação a tudo?
              A combatividade não é uma ideia. É uma realidade. Foi a nossa realidade, enquanto a vida nos deixou estar juntos. Muitos jovens adquiriram também este vício que tem um preço e que vale a pena. Eles compreendem a mensagem, todos os dias. Não sente isso?
              "Fazem falta homens livres para continuar esta luta"
              Não acha que chegámos àquele patamar de regresso ao básico, à exigência de um funcionamento das instituições da Justiça e do Estado como forma de assegurar que os que não têm nenhum poder - o cidadão comum - tenham alguma garantia de ver os seus interesses defendidos?
              É bonito dizê-lo. A corrupção tem sido um dos principais obstáculos ao nosso crescimento económico. O relatório McKinsey podia ter sido o grito do Ipiranga deste último sector. Fazem-nos falta homens livres como o José Luís para continuar esta luta. O que é uma razão para continuarmos.
              Pensa que a defesa desse patamar mínimo de direitos passa por uma outra organização da Justiça?
              A justiça penal mantém um papel a desempenhar. Tem que se adaptar rapidamente às novas realidades, modernizar-se, organizar-se. Tal como se apresenta, é manifesta a sua fraca capacidade dissuasora.
              http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/no...e-o-povo-ouvia
              Editado pela última vez por Omega; 26 December 2010, 17:16.

              Comentário


                #37
                Vinha aqui falar deste mesmo artigo acerca da figura do ano, Saldanha Sanches e da entrevista à Maria José Morgado.
                É evidente que não há vontade legislativa para facilitar o trabalho aos que querem acabar com os crimes de colarinho branco.

                Comentário


                  #38
                  mais um tópico sobre sujidade
                  se não sair com isto só com milagre

                  Comentário


                    #39
                    Tu lá saberás Tecauto.
                    Mas se quiseres dizer alguma coisa de útil estás à vontade.

                    Comentário


                      #40
                      Originalmente Colocado por prius Ver Post
                      Vinha aqui falar deste mesmo artigo acerca da figura do ano, Saldanha Sanches e da entrevista à Maria José Morgado.
                      É evidente que não há vontade legislativa para facilitar o trabalho aos que querem acabar com os crimes de colarinho branco.
                      O que não significa que se baixem os braços.

                      Comentário


                        #41
                        Originalmente Colocado por Omega Ver Post
                        Tu lá saberás Tecauto.
                        Mas se quiseres dizer alguma coisa de útil estás à vontade.
                        idem ""

                        Comentário


                          #42
                          Originalmente Colocado por prius Ver Post
                          Vinha aqui falar deste mesmo artigo acerca da figura do ano, Saldanha Sanches e da entrevista à Maria José Morgado.
                          É evidente que não há vontade legislativa para facilitar o trabalho aos que querem acabar com os crimes de colarinho branco.
                          E pq carga de água se há-de atribuir a Figura do Ano de 2010 a alguém q fez da vida uma luta contra a corrupção? Não se deveria ter premiado essa pessoa em vida? Provavelmente dá mais jeito q lhe seja atribuído o prémio agora pq, infelizmente, os seus comentários já não fazem mossa. Enquanto se pensar q, só de depois de desaparecidas, pessoas como Saldanha Sanches têm o mérito por serem como são, não têm papas na línguas, este País não dá uma volta para melhor.

                          Comentário


                            #43
                            Originalmente Colocado por Dumas Ver Post
                            E pq carga de água se há-de atribuir a Figura do Ano de 2010 a alguém q fez da vida uma luta contra a corrupção? Não se deveria ter premiado essa pessoa em vida? Provavelmente dá mais jeito q lhe seja atribuído o prémio agora pq, infelizmente, os seus comentários já não fazem mossa. Enquanto se pensar q, só de depois de desaparecidas, pessoas como Saldanha Sanches têm o mérito por serem como são, não têm papas na línguas, este País não dá uma volta para melhor.
                            Concordo.
                            Mas este destaque talvez seja uma forma de estas "figuras" e a sua obra não cairem no esquecimento.

                            Comentário


                              #44
                              Originalmente Colocado por Omega Ver Post
                              Concordo.
                              Mas este destaque talvez seja uma forma de estas "figuras" e a sua obra não cairem no esquecimento.
                              Pessoas com a obra e a tenacidade do Saldanha Sanches, q denunciou a corruptos, cobardes e oportunistas, não caem no esquecimento. A atribuição do prémio "Figura do Ano" faz lembrar a condecoração póstuma q recebeu, nem um mês depois do seu falecimento. Foram precisos 66 anos para descobrir o seu valor e só depois de falecer. Nada de admirar neste País.

                              Comentário


                                #45
                                Originalmente Colocado por Dumas Ver Post
                                Pessoas com a obra e a tenacidade do Saldanha Sanches, q denunciou a corruptos, cobardes e oportunistas, não caem no esquecimento. A atribuição do prémio "Figura do Ano" faz lembrar a condecoração póstuma q recebeu, nem um mês depois do seu falecimento. Foram precisos 66 anos para descobrir o seu valor e só depois de falecer. Nada de admirar neste País.
                                Talvez tenhas razão, mas como se costuma dizer "mais vale tarde que nunca".

                                Esperemos que daqui para a frente seja diferente.
                                Caberá a todos nós fazer essa diferença.

                                Comentário


                                  #46
                                  Originalmente Colocado por Omega Ver Post
                                  A chave da questão se calhar está aqui. Temos um organismo destes por cá ?
                                  Isso já não sei. Talvez portugal não precise de organismos verdadeiramente independentes que investiguem a corrupção. Ou talvez não haja condições -leia-se interesse- para que sejam criados.

                                  Ainda me lembro das acusações de favoritismo de trafico de interesses relativamente aos ministros dos governos do cavaco, do fechar de olhos ao comportamento de terra queimada que o cavaco teve relativamente aos corruptos e situações menos claras nos seus governos e relacionamentos de associados. E ainda assim ele chegou a presidente.

                                  Talvez o problema não seja -apenas- os corruptores da politica, mas uma maioria de corrompidos em potencia que esperam ser também abrangidos num esquema qualquer, que lhe permita viver melhor. Afinal é o exemplo que vem de cima e atravessa toda a sociedade até ao pequeno assalariado.

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                                    #47
                                    Originalmente Colocado por AirManMajor Ver Post
                                    Isso já não sei. Talvez portugal não precise de organismos verdadeiramente independentes que investiguem a corrupção. Ou talvez não haja condições -leia-se interesse- para que sejam criados.

                                    Ainda me lembro das acusações de favoritismo de trafico de interesses relativamente aos ministros dos governos do cavaco, do fechar de olhos ao comportamento de terra queimada que o cavaco teve relativamente aos corruptos e situações menos claras nos seus governos e relacionamentos de associados. E ainda assim ele chegou a presidente.

                                    Talvez o problema não seja -apenas- os corruptores da politica, mas uma maioria de corrompidos em potencia que esperam ser também abrangidos num esquema qualquer, que lhe permita viver melhor. Afinal é o exemplo que vem de cima e atravessa toda a sociedade até ao pequeno assalariado.
                                    Bom post. E vai ao encontro daquilo que venho dizendo de que a corrupção a ser combatida tem que o ser a todos os níveis...

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                                      #48
                                      Diz João Cravinho
                                      Financiamento dos partidos: Lei é "nódoa negra" na Democracia

                                      O ex-deputado socialista João Cravinho não tem dúvidas: a revisão da lei de financiamento dos partidos "abre a porta à corrupção", é "uma nódoa negra na democracia portuguesa" e não poupa críticas aos seus promotores, no Parlamento, e à atitude de Cavaco Silva, que deveria ter vetado à lei.


                                      Por:Cristina Rita


                                      É um grito de alma do ex-parlamentar, que chegou a apresentar um pacote anticorrupção no Parlamento na anterior Legislatura. João Cravinho considera que a legislação pode permitir, no limite, a "pior das corrupções" ao mais alto nível.
                                      Ao CM, e frisando que lamenta ter de fazer este tipo de declarações, Cravinho acrescenta que o argumento fundamental do Chefe de Estado para ter promulgado a lei, o corte nas subvenções, não é aceitável.
                                      Em seu entender, Cavaco Silva promulgou a lei, realçando várias falhas da mesma, mas defendendo a decisão pelo corte nas subvenções face ao actual contexto de crise.

                                      "Foi um dos seus dias de entendimento mais negro", advertiu porque se abre a porta à corrupção em troca da poupança nas subvenções.
                                      Em causa está a possibilidade das coimas a aplicar aos dirigentes partidos poderem ser incluídas nas despesas dos partidos e, no limite, serem subsidiadas pelo Estado, segundo avançou o 'Público'.
                                      Financiamento dos partidos: Lei é "nódoa negra" na Democracia - Política - Correio da Manhã

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                                        #49
                                        Originalmente Colocado por AirManMajor Ver Post
                                        Isso já não sei. Talvez portugal não precise de organismos verdadeiramente independentes que investiguem a corrupção. Ou talvez não haja condições -leia-se interesse- para que sejam criados.

                                        Ainda me lembro das acusações de favoritismo de trafico de interesses relativamente aos ministros dos governos do cavaco, do fechar de olhos ao comportamento de terra queimada que o cavaco teve relativamente aos corruptos e situações menos claras nos seus governos e relacionamentos de associados. E ainda assim ele chegou a presidente.

                                        Talvez o problema não seja -apenas- os corruptores da politica, mas uma maioria de corrompidos em potencia que esperam ser também abrangidos num esquema qualquer, que lhe permita viver melhor. Afinal é o exemplo que vem de cima e atravessa toda a sociedade até ao pequeno assalariado.
                                        Na mouche!!!!
                                        Por isso é que tem que se começar por baixo!!!
                                        É preciso mudar a mentalidade da geração actual e da próxima, ou seja dos nossos filhos! Começar por baixo é isso!

                                        Mudar mentalidades! Mudar atitudes!

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                                          #50
                                          Originalmente Colocado por Omega Ver Post
                                          Na mouche!!!!
                                          Por isso é que tem que se começar por baixo!!!
                                          É preciso mudar a mentalidade da geração actual e da próxima, ou seja dos nossos filhos! Começar por baixo é isso!

                                          Mudar mentalidades! Mudar atitudes!
                                          Mas aí é que está o problema. Porque é por baixo que estão aqueles que corrompem quem está por cima. Se tens um candidato que promete mundos e fundos à função publica, mesmo sabendo que está a mentir e, se for eleito não cumprirá nada do que prometeu para ganhar votos e outro candidato que opta por dizer a verdade e admitir que terá que reduzir o numero de funcionários publicos porque não há dinheiro para pagar os salários, em quem achas que vão votar?

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                                            #51
                                            Originalmente Colocado por Omega Ver Post
                                            Talvez tenhas razão, mas como se costuma dizer "mais vale tarde que nunca".

                                            Esperemos que daqui para a frente seja diferente.
                                            Caberá a todos nós fazer essa diferença.

                                            muita gente não esquece a maneira como recusaram o doutoramento na universidade de direito de lisboa ao saldanha sanches, por causa de 2 ou 3 imbecis

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                                              #52
                                              Originalmente Colocado por Lagarto Ver Post
                                              Mas aí é que está o problema. Porque é por baixo que estão aqueles que corrompem quem está por cima. Se tens um candidato que promete mundos e fundos à função publica, mesmo sabendo que está a mentir e, se for eleito não cumprirá nada do que prometeu para ganhar votos e outro candidato que opta por dizer a verdade e admitir que terá que reduzir o numero de funcionários publicos porque não há dinheiro para pagar os salários, em quem achas que vão votar?
                                              Quando se escolhe alguém seja para o que for tem que se ter a perspicácia de olhar ao conteúdo e não apenas para o embrulho.

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                                                #53
                                                Originalmente Colocado por bg2 Ver Post
                                                muita gente não esquece a maneira como recusaram o doutoramento na universidade de direito de lisboa ao saldanha sanches, por causa de 2 ou 3 imbecis
                                                Eu também não esqueço embora não saiba se os júris eram imbecis ou não. Mas talvez seja uma hipótese a considerar. Ou então podem ter-se enganado na análise que fizeram.

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                                                  #54
                                                  Originalmente Colocado por Omega Ver Post
                                                  Eu também não esqueço embora não saiba se os júris eram imbecis ou não. Mas talvez seja uma hipótese a considerar. Ou então podem ter-se enganado na análise que fizeram.

                                                  eles não se enganam. sabiam bem qual a nota a dar

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                                                    #55
                                                    Enquanto o povo continuar a votar sempre nos mesmos e a colocar sempre os mesmos no poder, é o mesmo que dizer que gosta deles e gosta da corrupção.

                                                    Olhem para as intenções de votos das presidenciais! O povo gosta!
                                                    (Só vêm PS/PSD)

                                                    Comentário


                                                      #56
                                                      Originalmente Colocado por Gugul Ver Post
                                                      Enquanto o povo continuar a votar sempre nos mesmos e a colocar sempre os mesmos no poder, é o mesmo que dizer que gosta deles e gosta da corrupção.

                                                      Olhem para as intenções de votos das presidenciais! O povo gosta!
                                                      (Só vêm PS/PSD)
                                                      Nem mais. Agora foi PS, foi mau, vota-se PSD. Depois do PSD, foi mau, vota-se PS.

                                                      Sinceramente não entendo.

                                                      Comentário


                                                        #57
                                                        Originalmente Colocado por Demoneeth Ver Post
                                                        Nem mais. Agora foi PS, foi mau, vota-se PSD. Depois do PSD, foi mau, vota-se PS.

                                                        Sinceramente não entendo.
                                                        Ou não.

                                                        Comentário


                                                          #58
                                                          Não sei se dá para rir ou para chorar
                                                          Este país não é para corruptos
                                                          Em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer


                                                          ... Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa. O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal, quem tenta corromper a pessoa errada não é corrupto- é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente; ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for administrador.
                                                          O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre título de suborno. O que se passou foi, no fundo, umailegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é acto que se pratique à balda, caso contrário o tribunal rejeita as pretensões do candidato. "Tenha paciência", dizem os juízes. "Tente outra vez. Isto não é corrupção que se apresente."

                                                          Comentário


                                                            #59
                                                            A corrupção em Portugal é um mal que já vem dos tempos da "outra senhora"! Todos criticam, mas no fundo todos a conhecem e tem de conviver com ela! Há até os que a admiram! Já houve vários casos de autarcas eleitos que se sabe serem corruptos, mas que o povinho reelege porque "o fulano é corrupto mas até faz obra"!
                                                            O corolário é a reeleição de um PM que tenta comprar um diploma com uma troca de favores! Concluindo o povo também tem muita culpa!

                                                            Comentário


                                                              #60
                                                              Começo por dizer que há um numero enorme de tópicos sobre este tema e por essa razão, não é fácil escolher um, apesar de muitos conterem participações de enorme interesse (como este, alias). Deixo aqui a sugestão de que se juntem os diversos tópicos relacionados com a corrupção.

                                                              O motivo pelo qual puxo este tópico para cima deve-se a esta preciosidade que fizeram o favor de partilhar.

                                                              Comentário

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