A Arte Outsider – feita por doentes mentais ou simplesmente por artistas autodidactas que geralmente não expõem os seus trabalhos – é pouco conhecida em Portugal, e isso faz com que se percam muitos trabalhos porque não se lhes dá o valor devido. Foi esta constatação que levou um grupo de pessoas de diferentes áreas a criar a Associação Portuguesa de Arte Outsider, que se propõe apoiar estes artistas, divulgar o seu trabalho, criar um centro de documentação e um atelier de Arte Outsider.
Da associação – cuja constituição foi ontem anunciada – fazem parte as historiadoras de arte Raquel Henriques da Silva e Helena de Freitas, directora do Museu Casa das Histórias Paula Rego, os artistas plásticos Eduardo Nery e Joana Vasconcelos, o jornalista Alexandre Pomar. O presidente é o historiador e economista Vítor Albuquerque Freire, que fundou o museu do Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa. Entre os sócios fundadores da nova associação estão outras personalidades como a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Simonetta Luz Afonso, o presidente da comissão nacional do ICOM, Luís Raposo, e a investigadora e escritora Maria Filomena Mónica.
“Sabemos que existem pelo país artistas outsider com obra feita freneticamente e que não a divulgam”, explicou ao PÚBLICO, Vítor Freire. Em alguns casos, as obras perderam-se ou saíram do país, como aconteceu com muitos desenhos de Jaime Fernandes (1900-1969), doente do Miguel Bombarda e que é o mais conhecido artista outsider português, com trabalhos na posse de museus de outros países especializados neste tipo de arte.
Vítor Freire cita outro exemplo, o de José dos Santos, camponês e escultor, que morreu em 1996, deixando perto de 250 esculturas a dois investigadores ingleses que se tinham interessado pelo seu trabalho – que se encontra actualmente no Centro de Arte Outsider da Universidade de Sydney, na Austrália.
A associação pretende fazer um levantamento dos artistas outsider existentes em Portugal, sejam doentes psiquiátricos ou não, e “contribuir para a auto-estima dos autores e para o combate ao estigma das doenças neuro-psiquiátricas ou da exclusão social”, salvaguardar colecções e obras, e realizar exposições e conferências sobre o tema.
Não o conhecia de facto, podem descobrir e contribuir...
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