A Fiat acaba de completar 30 anos de produção de veículos no Brasil. No dia 9 de julho de 1976, a empresa deu início às atividades da fábrica de Betim, região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, até hoje a única unidade produtiva da montadora no país. A celebração do 30º aniversário acontece no melhor momento da história da empresa. Depois de anos de prejuízo, a Fiat não apenas é líder de vendas de automóveis e comerciais leves, como também voltou a registrar lucro.
Entretanto, o caminho percorrido pela empresa para chegar a este momento foi longo e cheio de desafios. Ela foi a última das montadoras atualmente conhecidas como “quatro grandes” a instalar-se por aqui, depois de Ford, General Motors e Volkswagen. O acordo para a construção da fábrica em Betim foi fechado em 1974, entre o então governador de Minas Gerais, Rondon Pacheco, e o presidente da Fiat, Giane Agnelli. Dois anos depois, o primeiro carro da marca produzido no país, o 147, chegou ao mercado.
Ainda em 1976, a empresa estreou no Salão do Automóvel, em São Paulo (SP), como fabricante nacional e promovendo o lançamento do 147. “Na ocasião, uma passarela do estande da Fiat desabou. Sorte que havia uma ou duas pessoas nela, e ninguém saiu machucado”, conta Bob Sharp, jornalista especializado em automóveis que já trabalhou na Fiat. A montadora continuou seu caminho e, em 1978, lançou novas variantes do 147, inclusive a primeira picape derivada de um automóvel.
ano de 1979 foi marcante não só para a Fiat, mas também para a indústria automobilística nacional; a montadora lançou o primeiro motor movido a álcool, presente no 147. Os outros fabricantes, posteriormente, seguiriam a iniciativa da empresa italiana, e o álcool dominaria a matriz energética brasileira na década de 1980. Naquele mesmo ano, aconteceu o "Desafio do Álcool", competição promovida pela Fiat e Volkswagen no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Dois 147 e dois Passat percorreriam a pista dia e noite, com objetivo de ser mais o rápido gastando menos combustível.
“Os dois modelos Fiat bateram um no outro, perdendo desempenho”, conta Sharp. Em 1980, chegaram ao mercado a perua Panorama C e o pequeno utilitário Fiorino. Os anos seguintes foram marcados por lançamentos de novas versões do 147. Em 1984, foi a vez do carro que, na opinião de alguns analistas, é a chave do sucesso da Fiat nos tempos atuais: o Uno. Nos dois anos seguintes, a montadora lançou, respectivamente, o Prêmio, com motor 1.5, e o Elba.
Em 1987, a matriz da Fiat passou a controlar 100% do capital da subsidiária nacional e, dois anos depois, após o lançamento de versões de modelos já existentes, a montadora atingiu 1 milhão de unidades produzidas no Brasil. Chegava a década de 1990, e o Uno se consolidava como sucesso de mercado, arrebatando o segundo lugar no ranking de vendas, atrás do VW Gol. Naquele ano, o compacto ganhou o primeiro motor 1.0 do país. No ano seguinte, a empresa iniciou sua aventura no segmento de modelos mais requintados, com o lançamento do sedã Tempra. Cinco anos mais tarde, ele ganhou uma reestilização, que coincidiu com a chegada da configuração perua.
O ano de 1993 marcou a chegada do hatch Tipo; três anos depois, a montadora deu mais um passo certeiro: chegava às lojas a primeira geração do Palio, com grande festa em Belo Horizonte e Ouro Preto, ambas em Minas Gerais. O evento marcou também a celebração de 20 anos de produção de modelos Fiat no Brasil. Depois de um ano, chegaram as versões perua (Weekend) e sedã (Siena) da linha. A partir de então, a montadora aumentou seu ritmo de lançamentos: o Brava (hatch médio) e a Strada (picape) vieram em 1999. No ano seguinte, o Marea chegou para substituir o Tempra.
A segunda geração do Palio surgiu em 2000, e o furgão Doblò, em 2001, enquanto o Stilo, o substituto do Brava, veio em 2002. O Palio, em 2003, ganhou novo facelift, coincidindo com o lançamento do primeiro motor bicombustível da Fiat. Desta vez, a montadora ficou atrás da Volkswagen, a primeira a incorporar a tecnologia “flex”. O Uno, com sua já tradicional carroceria, sofreu uma reestilização leve em 2004, quando passou a ser denominado Mille.
Apesar das diversas versões lançadas no ano passado, 2005 foi marcado pela chegada da minivan Idea, que inaugurou nova plataforma na fábrica de Betim. O Marea ganhou motor 1.6, o que impulsionou levemente suas vendas. Ao invés das constantes oito unidades por mês, passaram a ser vendidos cerca de 130 sedãs em um período de 30 dias. Uma evolução, certamente. Apesar disso, o modelo, incontestavelmente uma decepção de vendas, deve ganhar substituto nos próximos anos.
LIDERANÇA E RENTABILIDADE
Na tradicional luta pela liderança de mercado, a Volkswagen sempre esteve na frente da Fiat. Mas somente até 2000, ano em que a montadora italiana assumiu o topo do ranking, e a alemã passou a perder mercado. Desde então, a Fiat só não foi líder em 2004, ano dominado pela GM. Para Marcos Rozen, editor-executivo da revista Autodata, especializada em economia e indústria automobilística, “a velocidade da Fiat em responder aos anseios do consumidor e do mercado, com a família Adventure e o Mille, por exemplo, foram determinantes para a marca alcançar a liderança”.
Atualmente, a Fiat conta com dois modelos entre os cinco primeiros do ranking, Mille e Palio. Além disso, a picape mais vendida do país é a Strada, que dis**** a liderança do ranking de comerciais leves com o Ford EcoSport. Por outro lado, no segmento médio, mais lucrativo do que o compacto, a montadora não conta com representantes de peso. O Stilo tem vendas fracas, e o Marea se converteu em fracasso de mercado. Faltam também representantes entre picapes e utilitários esportivos, segmentos nos quais a Fiat não tem tradição.
Além da liderança de vendas, a montadora também voltou, depois de anos, a operar com lucro em 2005. “No ano passado, resolvemos sair da guerra de preços com outras montadoras, e investimos em produtos mais desejados”, explica Cledorvino Belini, presidente da Fiat do Brasil. Para ele, o momento mais difícil da montadora aconteceu há três anos, durante a crise financeira da matriz, que também atingiu a subsidiária brasileira. Isso porque as operações nacionais têm grande peso no grupo Fiat, com 20% de participação nas vendas globais.
A fábrica da montadora emprega atualmente 16.500 funcionários e produz, diariamente, 2,2 mil modelos, em dois turnos. Maior planta da Fiat fora da Itália, é responsável pela fabricação dos carros da marca vendidos em toda a América Latina. Para outros grandes fabricantes, que contam com pelo menos três fábricas no Brasil, a unidade de Betim mostrou-se um exemplo de operação saudável. A Fiat manteve apenas uma fábrica no Brasil, com grande capacidade produtiva e longe da região metropolitana de São Paulo, onde os impostos são infinitamente maiores.
O QUE VEM POR AÍ?
Mas a capacidade ociosa de Betim pode ser ocupada em breve, pois a montadora prepara diversos lançamentos para o mercado nacional nos próximos anos. Embora nenhum deles seja confirmado oficialmente pela fábrica, no final de 2006 haverá renovação da família Palio, que inclui o hatch, a perua (Weekend), a picape (Strada) e o sedã (Siena). Em 2007, será a vez do Grande Punto, modelo europeu que, no Brasil, contará com exclusiva configuração sedã. O carro consiste em uma chance para a montadora tentar mais uma aventura no segmento, já que o Marea não obteve sucesso.
A categoria de utilitários esportivos leves, cujo símbolo é o Ford Ecosport, também é visada pelos italianos de Minas Gerais. Entre o final do ano que vem e 2008, o fabricante deve nacionalizar o jipinho Sedice, lançado na Europa no primeiro trimestre de 2006. Entre os modelos que deixarão se ser produzidos, o primeiro da lista é o Marea. O destino do Stilo é incerto. No ano que vem, ele ganha nova geração na Europa, mas não se sabe se isso acontecerá também por aqui. Outra dúvida é o Mille. Por quantos anos um dos maiores sucessos do mercado resistirá as inovações da indústria automobilística?
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