Originalmente Colocado por 330i
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Achas que algum privado iria fazer os serviços deficitários que a CP, por exemplo, é obrigada a fazer pelo Estado sem receber adequada compensação em troca? Pois os operadores públicos fazem. Há uma política de transportes que dita que certas regiões devem ser servidas por caminho de ferro, sejam regionais, intercidades, suburbanos, etc., com umas dadas frequências, nível de preço, etc. Normalmente essas ligações são deficitárias e o Estado não "paga" às operadoras públicas o custo desse serviço.
Acontece com a CP, com Metro Lisboa, Carris, STCP, SATA (inter-ilhas Açores, p.ex.), etc.
Os privados normalmente têm um contrato de concessão onde não existem tantas brincadeiras destas (vide Fertagus, com preços mais altos, isenção de aumentos de taxa de uso, não tendo de arcar com investimento de compra de material circulante, etc). Ao que consta, a CP Carga também teve direito a transferência de material motor pertencente à CP (portanto no balanço da CP) por uns valores simpáticos aquando da privatização...
Outro caso será a REFER para construir e manter linhas tem de se endividar. As receitas vêm da taxa de uso cobrada aos operadores ferroviários. No entanto, as taxas de uso cobradas não reflectem os custos de manutenção marginais da passagem de um comboio. Senão veja-se que os comboios de mercadorias, bem mais pesados que os de passageiros, pagam valores muito mais baixos por km.Não sei se alguém daqui está um pouco por dentro dos mecanismos de degradação de vias férreas devido à carga por eixo, mas o peso por eixo é um dos componentes principais na degradação da via e na necessidade de manutenção. Um comboio de mercadorias degrada muito mais a via do que uma simples automotora mas paga menos. São opções políticas cujos custos caem quase na totalidade nos operadores públicos (neste caso no gestor da infraestrutura que é a REFER)...
Em suma: os salários pesam, sim, tal como em todas as empresas de mão de obra intensiva. No caso da CP, os salários respondem por um terço dos custos operacionais. A CP está a conseguir gerar resultados positivos capazes de pagar os custos de operação e de investimento em material circulante. A acumulação de dívida e consequentes custos financeiros (que representam custos que atingiram o dobro dos custos com pessoal em 2014) é que são de tal ordem que colocam a empresa num buraco do qual nunca sairá, mesmo que todos trabalhassem à borla, não se pagasse taxa de uso da infraestrutura nem energia e combustíveis para fazer andar os comboios.
Não acho que faça sentido cortar em salários e o resto continuar tudo na mesma. No limite ficamos todos sem nada e continuamos com o mesmo problema.
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