Originalmente Colocado por c r a s h
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A minha opinião em relação à saída do Bangle da BMW é de alguma desilusão e tristeza, apesar de ter esperança que ele não ficará muito temppo quieto. Precisamos de tipos como o Bangle.
Tenho tentado acompanhar mais o trabalho dele nos bastidores da BMW, do que propriamente a realidade do produto, que passa por demasiados filtros, e o que obtemos, na maior parte das vezes é um palido reflexo da visão, do conceito, da ideia original.
O que ele pretendia, era de alguma forma, evoluir a espécie automóvel, procurando criar novas formas de o produzir, de o conceber. Torná-lo em algo bem mais flexivel, que se ajustasse mais facilmente às mudanças de mentalidades ou gostos, basicamente pôr o objecto automóvel ao nivel da mudança constante de outros objectos que se vão reinventando constantemente, com extrema flexibilidade.
A industria automóvel é rigida e lenta. Basta ver como a crise acentuou essas caracteristicas inatas. É necessário novos paradigmas.É necessário reinventar toda esta indústria.
Não digo que o Bangle tinha a solução para a coisa, mas temos que lhe dar crédito, porque mais do que qualquer um, ele tentou.
Ele mostrou o que é ser um designer. Quem pensa que o designer só faz bonecos, ou seja, que é apenas um estilista, tem de reparar mais no trabalho do Bangle. Ele procurou novas soluções técnicas para a produção de paineis de carroçaria, sem ter de recorrer às tradicionais mega-prensas.
Desde técnicas inspiradas em "origami", até à modelação digital de paineis, ou materiais alternativos para os mesmos.
Basicamente, novas soluções para um velho problema. Como revestir o esqueleto, mas de modo mais ecológico ou económico?
Durante as suas investigações dele e da sua equipa, deu origem a um dos concepts mais fascinantes de sempre... o GINA. Apesar de ter sido apresentado o ano passado, este foi concebido em 98/99.
nesse concept estão presentes não só os principios estilisticos do que seria a linguagem visual BMW, como mostra um futuro onde o material deixa de ser o pesado metal e passa a ser algo com qualidades fisicas do tecido.
Não é de supôr que teremos brevemente carros revestidos a "tecido", mas na constante evolução dos materiais, e com a chegada dos nano-materiais, imaginemos que se cria algo suficientemente forte e flexivel, que permita o abandonar da chapa e todos os processos produtivos do mesmo, criando um novo mundo de possibilidades, não só a nivel formal, como personalização formal. Deixamos de ter um objecto imutável ou onerosamente mutável, podendo escolher não só umas jantes diferentes, mas também opções formais diferentes a custo acessivel, porque deixa de ser necessário uma prensa para produzir um novo painel.
As possibilidades são imensas.
Num plano mais visual, sim, o homem soube abalar os pilares do ceu.
Ele já tinha mostrado que andava à procura de algo diferente durante os anos que esteve na Fiat. É da autoria dele o ainda surpreendente Fiat Coupé. Ainda não sei ao certo, mas ao que parece também teve papel influente no Alfa 145.
Ele entrou na BMW em 1992.
Para quem so conhece o Bangle desde o serie 7 de 2001, e dizem que o serie 3 E46, foram dos últimos BMW's bonitos, deveria saber que o E46 foi da autoria dele. E o X5 primeira geração também.
Ou seja, ele sabe fazer convencional e consensual.
Já agora o serie 7 (E65) com o famoso Bangle butt, foi na realidade, autoria do Van Hoydoonk.
Ou seja, temos uma linguagem visual que surgiu como consequência de um processo de investigação (GINA), e que depois de assimilada pela equipa, deu origem a uma série de BMW's de produção que pouco tiveram a mão de Bangle, e não nos esqueçamos, toda esta revolução teve o apoio incondicional (pelo menos era o que transparecia) da administração.
Mas para quem acha que o Bangle matou a BMW, destruiu todas as noções de belo e elegância possiveis e imaginárias, não compreende que actualmente, vivemos na era do styling Bangle. A influência dele actualmente na paisagem automobilistica, está ao nivel das ideias de Giugiaro na década de 70/80.
Mercedes, Lexus, Peugeot, Mazda, Ford, Audi, Opel, Toyota, Citroen, etc e uma miriade de modelos individuais, alguns deles que me surpeenderam pela "colagem" como o S60 concept, devem sempre algo ao Bangle.
O que o Bangle conseguiu foi a introdução de superficies dinâmicas e contrastantes. Superficies delimitadas por "hard lines". Ou seja, uma fina pele que se ajusta tensamente a um esqueleto.
Há alguns casos bem conseguidos, outros nem por isso (mesmo na própria BMW).
Os automóveis saíram de um marasmo classico e tornaram-se barrocos. Nalguns casos bastante exagerados, acabando por ficar "deformados" (maior parte do segmento B), noutros esse exagero resultou em propostas originais e fascinantes (concepts Mazda, por exemplo).
Os automóveis recuperaram em parte o velho conceito de escultura rolante. Não deixam de ser objectos que precisam de funcionar, mas o Bangle tem uma veia artistica muito forte, e quis dar aos automóveis o fascinio formal da escultura, brincando com as superficies, com os volumes, com a luz.
Depois desta explosão inicial, acredito que iremos assistir a propostas mais contidas. A BMW acabou de o fazer com a nova geração do 7. Onde o seu antecessor era diferente, desafiador e original, este novo é o regresso quase total ao convencional, ao politicamente correcto. Não tem metade da piada.
Toda a contestação à volta da Bangle é-me algo familiar de um ponto de vista teórico. No inicio do séx XX, a arte, ou melhor, toda a ideia de arte foi fortemente abalada por revolucionários que esticaram a identidade da arte ao ponto de ruptura. Tipos como Picasso ou Duchamp, obrigaram as pessoas a sairem da sua zona de conforto, da sua zona de segurança, forçando-as a conhecer um "mundo novo" para além das convenções estabelecidas. Inovação é sempre um processo doloroso.
Não coloco Bangle ao nivel destes artistas, até porque ele, como designer que é, estará sempre limitado a um caderno de encargos, e outras condicionantes. Mas foi interessante ver o movimento global de contestação ao mesmo. A inovação é sempre dolorosa.
Por isso é que precisamos de tipos como o Bangle. Tipos que ponham em causa o estabelecido e convencionado.
Permite abrir um mundo de possibilidades. Permite maior flexibilidade mental. Permite dar um passo em frente mais depressa. E torna este mundo muito mais colorido.
Espero que este longo testamento, consiga esclarecer um pouco a importância e influência de um tipo como o Bangle.
Só espero que ele não fique muito tempo parado e decida rapidamente o que fazer. Seja no automóvel ou noutra área qualquer do design.
Tenho tentado acompanhar mais o trabalho dele nos bastidores da BMW, do que propriamente a realidade do produto, que passa por demasiados filtros, e o que obtemos, na maior parte das vezes é um palido reflexo da visão, do conceito, da ideia original.
O que ele pretendia, era de alguma forma, evoluir a espécie automóvel, procurando criar novas formas de o produzir, de o conceber. Torná-lo em algo bem mais flexivel, que se ajustasse mais facilmente às mudanças de mentalidades ou gostos, basicamente pôr o objecto automóvel ao nivel da mudança constante de outros objectos que se vão reinventando constantemente, com extrema flexibilidade.
A industria automóvel é rigida e lenta. Basta ver como a crise acentuou essas caracteristicas inatas. É necessário novos paradigmas.É necessário reinventar toda esta indústria.
Não digo que o Bangle tinha a solução para a coisa, mas temos que lhe dar crédito, porque mais do que qualquer um, ele tentou.
Ele mostrou o que é ser um designer. Quem pensa que o designer só faz bonecos, ou seja, que é apenas um estilista, tem de reparar mais no trabalho do Bangle. Ele procurou novas soluções técnicas para a produção de paineis de carroçaria, sem ter de recorrer às tradicionais mega-prensas.
Desde técnicas inspiradas em "origami", até à modelação digital de paineis, ou materiais alternativos para os mesmos.
Basicamente, novas soluções para um velho problema. Como revestir o esqueleto, mas de modo mais ecológico ou económico?
Durante as suas investigações dele e da sua equipa, deu origem a um dos concepts mais fascinantes de sempre... o GINA. Apesar de ter sido apresentado o ano passado, este foi concebido em 98/99.
nesse concept estão presentes não só os principios estilisticos do que seria a linguagem visual BMW, como mostra um futuro onde o material deixa de ser o pesado metal e passa a ser algo com qualidades fisicas do tecido.
Não é de supôr que teremos brevemente carros revestidos a "tecido", mas na constante evolução dos materiais, e com a chegada dos nano-materiais, imaginemos que se cria algo suficientemente forte e flexivel, que permita o abandonar da chapa e todos os processos produtivos do mesmo, criando um novo mundo de possibilidades, não só a nivel formal, como personalização formal. Deixamos de ter um objecto imutável ou onerosamente mutável, podendo escolher não só umas jantes diferentes, mas também opções formais diferentes a custo acessivel, porque deixa de ser necessário uma prensa para produzir um novo painel.
As possibilidades são imensas.
Num plano mais visual, sim, o homem soube abalar os pilares do ceu.
Ele já tinha mostrado que andava à procura de algo diferente durante os anos que esteve na Fiat. É da autoria dele o ainda surpreendente Fiat Coupé. Ainda não sei ao certo, mas ao que parece também teve papel influente no Alfa 145.
Ele entrou na BMW em 1992.
Para quem so conhece o Bangle desde o serie 7 de 2001, e dizem que o serie 3 E46, foram dos últimos BMW's bonitos, deveria saber que o E46 foi da autoria dele. E o X5 primeira geração também.
Ou seja, ele sabe fazer convencional e consensual.
Já agora o serie 7 (E65) com o famoso Bangle butt, foi na realidade, autoria do Van Hoydoonk.
Ou seja, temos uma linguagem visual que surgiu como consequência de um processo de investigação (GINA), e que depois de assimilada pela equipa, deu origem a uma série de BMW's de produção que pouco tiveram a mão de Bangle, e não nos esqueçamos, toda esta revolução teve o apoio incondicional (pelo menos era o que transparecia) da administração.
Mas para quem acha que o Bangle matou a BMW, destruiu todas as noções de belo e elegância possiveis e imaginárias, não compreende que actualmente, vivemos na era do styling Bangle. A influência dele actualmente na paisagem automobilistica, está ao nivel das ideias de Giugiaro na década de 70/80.
Mercedes, Lexus, Peugeot, Mazda, Ford, Audi, Opel, Toyota, Citroen, etc e uma miriade de modelos individuais, alguns deles que me surpeenderam pela "colagem" como o S60 concept, devem sempre algo ao Bangle.
O que o Bangle conseguiu foi a introdução de superficies dinâmicas e contrastantes. Superficies delimitadas por "hard lines". Ou seja, uma fina pele que se ajusta tensamente a um esqueleto.
Há alguns casos bem conseguidos, outros nem por isso (mesmo na própria BMW).
Os automóveis saíram de um marasmo classico e tornaram-se barrocos. Nalguns casos bastante exagerados, acabando por ficar "deformados" (maior parte do segmento B), noutros esse exagero resultou em propostas originais e fascinantes (concepts Mazda, por exemplo).
Os automóveis recuperaram em parte o velho conceito de escultura rolante. Não deixam de ser objectos que precisam de funcionar, mas o Bangle tem uma veia artistica muito forte, e quis dar aos automóveis o fascinio formal da escultura, brincando com as superficies, com os volumes, com a luz.
Depois desta explosão inicial, acredito que iremos assistir a propostas mais contidas. A BMW acabou de o fazer com a nova geração do 7. Onde o seu antecessor era diferente, desafiador e original, este novo é o regresso quase total ao convencional, ao politicamente correcto. Não tem metade da piada.
Toda a contestação à volta da Bangle é-me algo familiar de um ponto de vista teórico. No inicio do séx XX, a arte, ou melhor, toda a ideia de arte foi fortemente abalada por revolucionários que esticaram a identidade da arte ao ponto de ruptura. Tipos como Picasso ou Duchamp, obrigaram as pessoas a sairem da sua zona de conforto, da sua zona de segurança, forçando-as a conhecer um "mundo novo" para além das convenções estabelecidas. Inovação é sempre um processo doloroso.
Não coloco Bangle ao nivel destes artistas, até porque ele, como designer que é, estará sempre limitado a um caderno de encargos, e outras condicionantes. Mas foi interessante ver o movimento global de contestação ao mesmo. A inovação é sempre dolorosa.
Por isso é que precisamos de tipos como o Bangle. Tipos que ponham em causa o estabelecido e convencionado.
Permite abrir um mundo de possibilidades. Permite maior flexibilidade mental. Permite dar um passo em frente mais depressa. E torna este mundo muito mais colorido.
Espero que este longo testamento, consiga esclarecer um pouco a importância e influência de um tipo como o Bangle.
Só espero que ele não fique muito tempo parado e decida rapidamente o que fazer. Seja no automóvel ou noutra área qualquer do design.
Thank's c r a s h
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